Quando decidi participar na coordenação deste numero da revista online Interact, estava muito curiosa em relação às entrevistas, pois o tema da minha investigação, o vestuário nos filmes de etnoficção, é muito pouco valorizado, se não totalmente desconhecido, pelo menos em Portugal. Durante o doutoramento, a oportunidade de assistir a várias conferencias internacionais e várias apresentações de volumes dedicados quer à etnografia em geral quer ao cinema etnográfico e também ao cinema português em particular, deixou-me com a sensação de que muito mais podia ainda ser dito sobre estes assuntos. Considerando a heterogeneidade dos entrevistados aqui presentes, creio que cada um deles deu um forte contributo para que um tema como o do vestuário cinematográfico ganhasse vida, de acordo com as suas experiências pessoais e com o trabalho que têm desenvolvido.
A personalidade poliédrica de Vasco Pimentel (director de som em cinema) foi uma das escolhas, pelos apontamentos interessantes que traria sobre o cinema de etnoficção e sobre a roupa; notas talvez pouco académicas mas que definem um conhecimento avançado sobre os processos dos media na época contemporânea. Se pensarmos no conceito de etnoficção usado por Jean Rouch, surgem desde logo textos de Ricardo Costa, realizador de cinema com vastos conhecimentos históricos sobre o próprio termo, sua concepção e transformação, que até hoje não foram divulgados. A entrevista a Catarina Alves Costa (professora e realizadora) abre as portas à antropologia e à maneira como esta ciência usou e usa o termo etnoficção, nem sempre com associações ao cinema propriamente dito. A realizadora escreveu a sua tese de doutoramento sobre António Campos e suas ligações ao cinema português, tema útil, se não mesmo indispensável, para compreender alguns conceitos ligados à Antropologia Visual. Por fim, a presença de Manuel Mozos explica-se facilmente por ser, ele também, uma figura versátil que une ao trabalho arqueológico no ANIM o trabalho como realizador, com uma consciência cinematográfica rara.
Todos deram um contributo importante não só para a concepção deste número da Interact como também para a minha pesquisa de doutoramento. Sublinho por isso a heterogeneidade dos conceitos por eles expostos, pois para chegar a alguma homogeneidade sobre um discurso quase desconhecido temos que começar pela abertura do máximo de portas possíveis.
Acerca das relações entre os géneros do documentário e da ficção, e os conceitos de «verdade» e «ficção».
Sobre a etnoficção e sua evolução enquanto género em Portugal, à luz dos trabalhos marcantes de Leitão de Barros, António Reis e Margarida Cordeiro, António Campos, e ainda a trilogia sobre as Fontainhas, de Pedro Costa.
Sobre a designação «documentário etnográfico» como forma de ocultar a presença do autor.
Sobre a ficção como metodologia documental e sobre o papel de elementos como o vestuário nessa mesma metodologia.