Chuva Suspensa

[Description in English below]

Ao contrário da imagem, o som contém a capacidade da percepção a 360 graus. A espacialização sonora abordada na instalação que se segue questiona as formas de (i)materialização do tempo geólogico.

Refletindo as (i)materialidades nesta instalação, o surgimento de som e o seu desaparecimento transformam o espaço até ao ponto onde a percepção do espaço através do som vai além dos limites físicos. Ele é, ao mesmo tempo, tanto o conteúdo como a forma, no seu estado puro de transição. Fundamental, o espaço assim definido reflete o tempo geológico, formando-se em torno dum evento sonoro — a chuva. Num duplo movimento do som que surge e que desaparece, gera-se a noção de que este espaço existe como um documento vivo do tempo geólogico.

 

 

Nesta instalação em forma de disco, as gotas fortes produzem o som. O ritmo da chuva retarda o ritmo do cérebro, permitindo-nos abandonar a consciência normal para viajar a outros dos seus niveis. A atividade cerebral normal é suprimida e a consciência liberada para explorar outras formas de percepção. Além disso, no meio aquático o som viaja a 1.500 metros por segundo (3.350 milhas por hora). Os nossos corpos contém 70% de água, o que faz com que sejam bons condutores de som. Através do princípio de ressonância, com as frequências entre 20 e 140 Hz queremos também usar o som para devolver ao corpo a sua harmonia. O delicado gotejamento periódico, depois de a chuva parar, cria a pós-imagem aural da chuva. Depois da «limpeza», efeito meditativo do rufar da chuva intensa, os nossos sentidos são apurados e ficam mais alerta para o que está ao seu redor.

Perfurando os seus sentidos, a imaginação entra em cena. Mesmo que o espaço exista enquanto a chuva cai, no duplo movimento de surgir e desaparecer, o espaço que surge depois é como um eco desta — na sua ausência, enquanto os nossos corpos buscam a presença rítmica, estamos mais atentos que propriamente presentes. O último grupo de sons relaciona-se com os sons muito suaves, que são tão ténues que se tornam algo apenas detectado, em vez de ouvido. As gotas de chuva recolhidas num coletor especial de madeira caem num material natural, como a pedra, que cria ressonâncias harmónicas através do espaço. Este é o grupo de sons que dura mais tempo, pingando por algum tempo após a queda da chuva.

A questão da presença, do estar atento, está refletida no video que segue, enquanto a chuva cai e o evento sonoro emerge. A imagem não está subordinada a representação — as imagens emergem na mente do observador e, portanto não podem ser representadas. O video reflete e inclusive gera o processo, como uma composição, de criação de imagens que escapam aos limites formais.

 

Making of

 

 

Description in English

Unlike image, sound contains the ability of perceiving in 360 degrees. The space formed through the sound adressed in the following installation questions the forms of realization of geological time.

Reflecting its intagible materiality, sound transforms space to the point where perception of place through sound goes beyond physical limits. At the same time, it is both content and form, in its pure state of transition. Fundamentally, the defined space thus reflects geological time, formed around a sound event — rain.

By touching the gong, heavy droplets produce sound. Normal brain activity is suppressed and consciounsess is released to explore other forms of perception. In addition, sound travels in water at 1500 meters per second (3350 mph). Our bodies contain 70% of water, which makes them good sound conductors. The delicate regular drip, after the rain, creates an aural rain afterimage. After the cleansing, meditative effect of heavy rain drumming, our senses are more fierce and alert for srrounds them.

Sharpening the senses, imagination comes into play. The space that comes after is like an echo of the rain — but in her absence. A silence. Our bodies are getting more aligned with the rhythmic presence of drops – 50 to 70 drops per minute, bringing the body back into harmony. The rhythm of the rain slows the heart rhythm, allowing us to leave normal consciousness, to travel to other levels.

The last group of sounds is related to very gentle sounds, that are so soft that they become something sensed, rather then something heard. This is the group of sounds that lasts the longest, dripping for some time after the rain fell.

The question of being present, of being aware, is reflected in the video that follows. The image is not subordinated to the representation – the images emerge in the mind of the spectator and, therefore, cannot be represented. In a way, the video generates the process of the emergence of these images, thus escaping the role of representation, and gaining a performative one.