https://www.flickr.com/photos/s3ra/14002923921/in/set-72157644342725413/lightbox/
A sequência de imagens está dividida em quatro secções.
A primeira contém as ideias iniciais ou hipóteses, sendo aí evidente que o assunto está a ser indagado através da fotografia; evidencia-se o que acarreta indagar, como análogo da janela, a porta: como «ver através de»3 uma janela é diferente de atravessar fisicamente uma porta.
Na segunda parte admite-se que esta metodologia de pesquisa visual tem um ponto de vista subjectivo, ancorado na experiência do autor; está dentro de um limite, deste lado da porta, entre a realidade fotográfica, a da imagem de objetos e lugares, e a ficção, no sentido da evocação de lugares e sensações outros, que são sugeridos pela sequência. Nenhuma das imagens tem notas, subvertendo uma certa relação com o lugar de forma a amplificar a reflexão do observador até se chegar ao medo4 do não ver ou de imaginar o que ocorre do outro lado desse limite. Este estranhamento prepara o estado de ânimo necessário à descoberta da travessia5.
Na terceira parte o limiar pode ser transposto ou ultrapassado apenas com a luz que se escreve na fotografia6, até esta se reflectir num rosto, no outro homem.
Na quarta e última parte, esta experiência é um caminho, uma via que existe até alguém a calcar para não se auto-cancelar7, uma via habitual, com a certeza da sua meta que é neste momento o regresso à própria casa; ainda em frente de uma porta que posso atravessar com a minha sombra.
Antes de ser atravessada, uma porta é um confim, uma demarcação; tal como numa janela apenas imaginamos, embora talvez possamos ver o que está além. À medida que a atravessamos, esta porta é tempo, um fragmento8, uma fracção de segundo, tal como a janela pode ainda ser assunto da fotografia. Visitar este limar com o ritual da fotografia, na experiencia espacial e no equilíbrio do seu autor com o mundo9, no seu projetar-se até o infinito10, além desta demarcação, transmite o assunto deste trabalho a outras experiências, talvez ainda desconhecidas.
Sebastiano Raimondo
Nápoles, 30 de Abril de 2014
Ficha Artística
Fotografias tiradas em película 120 em Portugal e na Sicília, digitalizadas, convertidas e editadas pelo autor (2011-2014).
Notas
1 Cf. Paolo Costantini, Cose che Sono Solo se Stesse, Milão/Montreal, Electa CCA, 1996.
2 Cf. o significado etimológico da palavra em italiano e português, em Sebastiano Antonio Raimondo, Uma Ponte: La Fotografia, un Modo di Abitare il Mondo e Costruirlo, Tese de mestrado (orientadores: Prof. Giovanni Chiaramonte e Prof. Arq. Paulo Alexandre Tormenta Pinto), Facoltà di Architettura, Università degli studi di Palermo, 2013.
3 Cf. Erwin Panofsky, La Prospettiva come «Forma Simbolica» e Altri Scritti, org. e anotado por Marisa Dalai, Milão, Collana SC/10, Giangiacomo Feltrinelli Editore, 1996.
4 Cf. Aïvanhov O. Mikhaël, Le Porte dell’Invisibile, Perugia, Edizioni Prosveta, 1995.
5 Cf. Silvano Petrosino, Lo Stupore, 2.ª edição, Novara, Interlinea edizioni, 2012.
6 Cf. o significado etimológico da palavra «fotografia».
7 Cf. Roberto Collovà, Piccole Figure che Passano, Milão, 22 Publishing, 2012.
8 Cf. Rosalind Krauss, Teoria e Storia della Fotografia, Milão, Edizioni Scolastiche Bruno Mondadori, 1996.
9 Cf. Sebastiano Raimondo, «Sob a Luz do Sol também os Sons Brilham», in Paulo Alexandre Tormenta Pinto, Paisagens Distantes: A CRIL, uma Avenida Pós-Moderna (Passagens n.° 1), Lisboa, Caleidoscópio, 2013. Cf. Sebastiano Antonio Raimondo, Sebastiano Antonio Raimondo, Uma Ponte: La Fotografia, un Modo di Abitare il Mondo e Costruirlo (op. cit.).
10 Cf. Erwin Panofsky, La Prospettiva come «Forma Simbolica» e Altri Scritti (op. cit.) Cf. Franco Farinelli, Guillaume Monsaigeon e Gonçalo M. Tavares, Mappamundi, Lisboa, Museu Coleção Berardo, 2011.