Enquadrando o Real

Qualquer tipo de imagem produzida, e reproduzida, deve ser tomada como uma delimitação espacial (e temporal), cuja potência máxima é a exponenciar a experiência, e neste desenrolar, tanto histórico como ficcional, a fotografia e o cinema colocaram em quadro mais uma forma de ver e viver o mundo. Sob esta perspectiva as imagens técnicas não deverão ser tidas como meras representações objectivas da realidade mas como subtracções do real, cujo propósito fundador não é a narração de uma história mas a produção de afecções e a criação de novos significados.

Estes novos significados enformados pela fotografia são regidos por uma relação paradoxal tão bem determinada por Roland Barthes: num primeiro momento, a fotografia é apreendida como uma representação factual, devido à sua relação de contiguidade com o seu referente. Num segundo momento, é uma construção cultural colocada em trânsito. Dito de outro modo, a fotografia é primeiro denotada como pura subtracção, e num segundo momento conotada como o modo do qual a sociedade se serve para mostrar o que ela pensa. Será através desta configuração que a fotografia, através da sua relação paradoxal, tenta validar o seu realismo.

Estas imagens colocadas em quadro suscitam uma breve aporia quanto à sua localização geográfica. A superfície da paisagem é real, mas expressão e o modo como se enquadra é ficcionada. Perante a câmara, tudo age para o dispositivo óptico – e não há imagens inocentes.

 

No rompimento do quadro que se fecha sobre si

Há uma nova janela por onde se espreita

E o que se vê vai além do que a linguagem poderá dizer

Fechado por fora, através desta nova visão, somos

levados pelo retorno aos mesmos sítios:

 

À espera do quadro retornado