Um dos símbolos que vai surgindo em várias ocasiões ao longo do pensamento de Bernard Stiegler é o da espiral. Por exemplo, em La Technique et le Temps 2. La Désorientation, nas frases finais do seu derradeiro capítulo intitulado Objeto Temporal e Finitude Temporal, o filósofo refere-se ao facto de Henri Bergson pensar a articulação entre a perceção e a memória através da figura do cone. E conclui: “[o] objeto temporal é um turbilhão no interior de um fluxo – isto é, uma espiral. Toda a ‘consciência’ é ela mesma temporal e por isso mesmo redemoinhante” (1996:78).
A ideia da espiral está no centro da compreensão de uma lógica dúplice que, segundo Stiegler, é aquela que melhor permite compreender o movimento da transdução simondoniana entre um interior/exterior, mas também entre a individuação física/psíquica do indivíduo e a individuação coletiva da sociedade. Isto porque a espiral, de alguma forma, é um movimento que conjuga uma lógica centrípeta, que junta e concentra, e uma lógica centrífuga, que afasta e dispersa, num devir dinâmico. Ou, ainda em termos usados sobretudo a partir do terceiro tomo da trilogia La Technique et le Temps, uma tendência sincrónica e uma tendência diacrónica.
No texto Bernard Stiegler, 1952-2020, Gerald Moore dá-nos mais pistas sobre a importância da espiral para o pensamento de Stiegler. Uma imagem que o obcecou num momento de rutura, de epokhē, um período de encarceramento, durante o qual Gérard Granel, o seu primeiro mentor filosófico, reconheceu aí a originalidade da sua filosofia (2021:109). Já sob a orientação de Jacques Derrida, Stiegler pensa o papel constitutivo da técnica na ontologia do sujeito, em La Technique et le Temps 1. La Faute d’Epimethée. Este trazer para o centro constitutivo do sujeito temporal o objeto implica, de alguma forma, desconstruir a secundariedade da tecnologia na história da filosofia. Ainda segundo Moore, a co-constituição sujeito/objeto no tempo é ela própria a imagem da espiral stiegleriana. Stiegler relança a différance derridiana como uma “maiêutica tecnológica” (Stiegler, 1994: 152) ou “instrumental” (1994: 164), uma “reinvenção recíproca” ou “co-individuação”. “O sujeito inventa o objeto, que por sua vez reinventa o sujeito transformando a sua interioridade” (Moore, 2021: 109). Este é um processo espiralado que avança no tempo, por refinamento mútuo, entre utilizador e instrumento.
Parece evidente que esta lógica maiêutica e espiralada vem beber das teorias ontogenéticas de Gilbert Simondon, onde a individuação é o movimento que se afirma como solução crítica das teses essencialistas. A constituição “em movimento”, “em composição com” é concebida a partir do que Stiegler define como a “aporia da origem”. A dimensão co-constitutiva do interior/exterior na qual a técnica é constitutiva da temporalidade no homem, é trabalhada a partir do mito de Epimeteu e Prometeu no diálogo platónico Protágoras (1994: 195). A partir da dupla falta dos irmãos — o esquecimento de Epimeteu e o roubo de Prometeu —, Stiegler teoriza a essência do homem como uma falta [1], um vazio aporético no interior do ser que sempre busca preencher, après coup, essa falta originária de qualidades. Esse preenchimento é feito através da manipulação com a técnica, numa relação pela qual Prometeu e Epimeteu representam duas figuras de temporalidade, o “avanço prometeico e o atraso epimeteico”, um representando a sabedoria e o outro a idiotia (1994: 30) que, como remédio e veneno, se compõem nessa lógica espiral.
Esta compreensão indivisível e inseparável entre o homem e a técnica torna clara a insuficiência das teorias prometeicas e fáusticas de uma técnica instrumental ou indiferentemente absoluta. Uma pista dessa insuficiência é-nos dada pela proximidade entre a formulação do “vazio fundante” do humano em Stiegler e o “homem sem qualidades” em Robert Musil que o filósofo francês considera, numa das suas últimas obras (como supervisor e coautor), Bifurquer: L’absolue nécessité (2020a), como prefigurando o homem da Sociedade Automática (Stiegler, 2015). Um homem sujeito à “governamentalidade algorítmica” (Rouvroy & Berns, 2013), na qual se dá uma geração automática de relações entre indivíduos psíquicos que conduz – através do user profiling, echo chambers e o nudging – à aniquilação das “localidades psíquicas que são os próprios indivíduos eles mesmos” (Stiegler, 2021: 54). Em suma, está em causa uma forma de compor com a realidade exterior para que o preenchimento da “falta originária” não devenha uma “sem qualidade” como qualidade supletiva ela mesma.
É logo a partir dos já referidos segundo e terceiro tomos da trilogia La Technique et le Temps, ainda numa primeira fase do pensamento do autor francês, que a centralidade da técnica ganha, no seu edifício conceptual, preponderância política. O segundo volume explica-nos as causas de uma desorientação, na qual se tornam inconciliáveis o veloz “processo de inovação permanente” da técnica contemporânea e o atraso, sempre sem ajustamento, dos indivíduos e das organizações sociais (1996: 11). Isto deve-se à captura da produção técnica como memória pela dinâmica industrial, com privilégio para novas tecnologias de retenção e inscrição, analógicas e digitais — como o fonógrafo, o cinema, o rádio, a tecnologia da informação digital —, que privilegiam o “instantâneo”, o “tempo real” (1996: 74-78), a sensação, e que eliminam o tempo do “atraso epimeteico”, da reflexão après coup, da inscrição noética (1996: 145). Segundo Stiegler, a captura da técnica numa lógica industrial e de marketing, produz uma “industrialização da memória”, baseada na constituição de “objetos temporais industriais”[2] audiovisuais e informacionais que acabam por produzir uma “desorganização do orgânico com o intuito de o reorganizar” (1996: 120, 121 e 276).
Esta aceleração ou perturbação da relação espiral entre sujeito e sociedade, homem e técnica, põe em causa o processo positivo que Stiegler define como “duplo redobramento epocal” (1996: 74 e ss.: 90 e ss.). Este é um mecanismo a dois tempos, que implica uma dupla suspensão do normal funcionamento das coisas: primeiro, ao nível de uma transformação técnica e, depois, ao nível de uma adoção dessa transformação pela sociedade.
Num primeiro momento, dá-se a introdução de uma mutação técnica, que, ao “abrir uma epokhē”, “suspende os programas” que regem o presente (Stiegler, 2010: 63), isto é, comprometem ou curto-circuitam os “circuitos de transindividuação” [3] na relação entre o indivíduo e a sociedade em vigor no momento. Neste primeiro momento de suspensão, produz-se um “rasgo”, uma “lesão”, um “enfraquecimento”, e o novo objeto técnico tem uma dimensão intoxicante, paralisante, e no qual apenas pode desenvolver-se uma política de “adaptação” (2010: 229). A constituição de uma verdadeira época, agora no sentido mais corrente da palavra, só pode dar-se num segundo momento, o “segundo redobramento”, no qual a adaptação se converte na possibilidade de criação de verdadeiras políticas de “adoção”. Aqui começa a reequilibrar-se a relação homem/técnica, no sentido em que homem, individual e coletivamente, passa a introduzir e integrar o anterior choque tecnológico numa “nova philia”, criando novos circuitos de transindividuação (2010: 64).
A partir de Marx, Stiegler cedo percebeu que esta espiral havia de alguma forma tomado um trajeto disruptivo, conceptualizando o alargamento de uma exploração proletária. Uma noção de proletarização, como perda de individuação, aplicada a toda a sociedade que se vê compelida a adotar, por via de um “marketing como tecnologia de fazer-crer”, um conjunto de modos de vida (2001: 156) que Stiegler sintetiza como um “american way of life” (2001: 41 e 177). Em Le temps du cinéma et la question du mal être, Stiegler detalha as condições que permitem esta proletarização generalizada. Tratava-se de uma verdadeira industrialização da perceção e da experiência sensível (2001: 127 e ss.) que implica um processo de captação, gestão e disseminação das “seleções artificiais”, que a nossa consciência opera, pela máquina capitalista. Este processo da manipulação da nossa atenção, dos “tempos disponíveis do nosso cérebro” (2004:51-52 e 192), seria levado a cabo pelos grandes atores culturais, o centro da globalização, os EUA, exportando via cinema e televisão esse american way of life. Este processo é visto por Stiegler como um “esquema de existência prevalente”, que estimula o indivíduo como consumidor e abre a potencialidade daquilo que apelida de “mal-estar”. Este é gerado por esse processo de adoção marxista em que um indivíduo é progressivamente apartado do seu pensamento, produzindo uma tensão entre a individuação coletiva, cuja exploração hiper-industrial faz tender para uma sincronia na adoção destes esquemas, e, por outro lado, a individuação psíquica que responde a essa sincronização com uma atomização hiper-diacrónica interior face ao coletivo, manifestando-se num sentimento de não pertença a uma comunidade, a um herdado comum. Este é um processo de proletarização do consumidor (2004: 60) em que este não é, como no processo inicial de industrialização, afastado de um savoir faire, mas sim de um savoir vivre. Estaríamos diante de processo generalizado de proletarização do humano, que procuraria, no contexto de uma “economia da atenção”, gramatizar, isto é, calcular e controlar essa atenção.
A economia da atenção, de destruição do desejo e canalização da libido para um consumo pulsional, conheceu nos últimos anos, com o carácter programático da calculabilidade atuando sobre a reticularidade digital, um ainda mais intenso controlo e automatização. Em Dans la disruption. Comment ne pas devenir fou? (2016), Stiegler aborda, sem deixar de transparecer um certo desânimo, o aproximar de um certo “niilismo automático”. Um “poder (…) de desintegração reticular que se estende sobre a Terra” (…) que “penetra, invade, parasita e finalmente aniquila as relações sociais”, esterilizando e destruindo, como uma bomba de neutrões, tudo o que procede de uma cultura e de uma vida social local. Uma espiral em direção a uma disrupção, que Stiegler define como aquilo que vai “mais rápido do que a toda a vontade, individual ou coletiva, dos consumidores aos ‘dirigentes’, políticos ou economistas” (Stiegler, 2016).
Embora Stiegler tenha sido acusado de ser um “mercador do pânico” (Moore, 2021:110), em face da “tragédia” de um pensamento fundamentalmente crítico, por vezes lido como apocalíptico, a verdade é que este duplo movimento tenso da espiral – entre um devir e um permanecer, uma busca de uma neguentropia em face de um sistema que acelera a sua entropia – não permite baixar os braços. Em Stiegler, o “ficar com o problema” (Haraway, 2016) é uma condição da própria individuação e pensamento técnico no humano.
Talvez por isso Stiegler tenha utilizado – mais sistematicamente a partir de 2010, data de Ce qui Fait Que la Vie Vaut La Peine D’Être Vécue – De La Pharmacologie –, o conceito de phármakon, a partir de Platão e Derrida. Este permite compreender a dualidade desse movimento de espiral como condição fundamental da composição e reversibilidade do agir.
Para Stiegler, o conceito de phármakon já não vem apenas acompanhado da referência a uma dualidade remédio/veneno, ou sequer também à herança derridiana que procura “contaminar” a anamnese com a memória artificial da escrita, a hipomnése, mas implica um verdadeiro discurso terapêutico sobre o seu uso, isto é, uma farmacologia. No domínio da biologia, o termo “farmacologia” é entendido como a interação entre um organismo vivo e um produto de modo a obter uma composição “adequada” para chegar a uma terapêutica que ultrapasse uma possível toxicidade. Por isso, Stiegler abre o referido livro de 2010 com a intenção de extensão da apreensão do conceito de phármakon e sua conversão numa verdadeira farmacologia, isto é, “um discurso sobre o phármakon que apreende no mesmo gesto as suas dimensões curativas e as suas dimensões tóxicas” (2010: 16), conclusão que Stiegler acredita que Derrida nunca chegou a tirar. Para Stiegler, “o phármakon é à vez o que permite tomar cuidado [prendre soin], e do qual é preciso tomar cuidado – no sentido em que é preciso ter-lhe atenção: é um poder curativo na medida e desmedida em que é um poder destrutivo” (2010: 6).
Stiegler concebe toda a técnica como fundamentalmente “originária e ambivalente” (2013: 422) e todos os objetos técnicos como farmacológicos (2013: 421), pharmaka, que supõem uma dada prescrição terapêutica de utilização. Essa prescrição permite manter a espiral nos seus eixos tensionais, uma individuação que nem elimina totalmente a dimensão tóxica do phármakon, nem se deixa afundar nessa toxicidade disruptiva. Trata-se de um sistema de composição do homem com a técnica que coloca no seu centro a importância do uso do objeto técnico e a conceção de finalidades – em função de uma medida e desmedida. Uma farmacologia que se insere numa noção de “montagem em tempo real” que a nossa consciência, ao funcionar como arqui-cinema, opera entre as seleções da perceção e acesso às memórias, a individual e a inscrita nos objetos.
Como defendemos noutro lugar [4], o phármakon, ao funcionar como estratégia de movimento cinemático de composição – no qual a dialética é superada pelo movimento da individuação –, permite fazer sair o cinemático da “tragédia cultural” em que se viu enredado e alargar-se, relançar-se como metodologia do vivo e pedagogia de uma negociação mediática.
Até ao final da sua carreira Stiegler nunca deixou de procurar, nessa composição farmacológica, os espaços de uma utilização que nos servisse. Por exemplo, durante o confinamento, motivado pela Covid-19, Stiegler via a oportunidade de “regressar à memória e sentido de coisas que fizemos no passado”, repensando o que significa fazer algo em conjunto (2020b: 2). Ou quando em 2019 relançou a associação de cariz político Ars Industrialis como Associação dos Amigos da Geração Thunberg e começou a trabalhar no sonho de uma “nova” era do Negantropoceno (Moore, 2021: 112). Esta implica a tentativa de bifurcar nessa espiral descontrolada ou em disrupção, procurando repensar um novo modelo de teoria da informação que valorizasse o conhecimento, como aquilo que não pode ser calculado. A revalorização do conhecimento devia ser feita a partir das dinâmicas do local – trabalhando a partir da noção de “território laboratório” – numa denominada economia da contribuição e da reformulação do trabalho em detrimento do emprego.
O seu último livro, o já mencionado Bifurquer: L’absolue nécessité (2020a), junta textos de dezenas de investigadores que procuram pensar a transformação em diversas áreas desde a investigação contributiva, a descarbonização da sociedade, a desintoxicação planetária, a passagem da nação à internação (a partir de um conceito de Marcel Mauss), o potencial da localidade ou a economia contributiva. Este trabalho foi apresentado, em formato provisório, no centenário das Nações Unidas em janeiro de 2020, tendo sido publicado meses depois. Tratava-se de lançar mão de uma estratégia de pensamento e desenvolvimento tecnológico bottom up, envolvendo o empenho internacional das Nações Unidas, gizando de raiz uma alternativa a uma arquitetura de uso e conceção da tecnologia.
Neste livro estão presentes algumas das ideias que, diante do “niilismo absoluto”, exigem uma bifurcação, uma autonomia do pensamento por si próprio, contra uma calculável lógica da automatização.
Como escreve Stiegler num dos seus últimos textos:
O conhecimento positivamente constituído é anamnésico, isto é, autónomo – que sempre significa encontrar em si a sua própria lei, e encontrá-la como possibilidade inaugural de “pensar por si mesmo”, isto é, para nós, de bifurcar (em antropia): ocorrendo depois da interrupção heteronómica de uma hipomnése e mais genericamente de uma artefatualidade exosomática que coloca (alguma coisa) em questão, este conhecimento anamnésico e autónomo encontra o seu poder em virar um momento de desindividuação (de interrupção, de desafio, de colocação em questão) numa promessa de individuação (uma nova protensão), um “salto quântico na individuação” – e fazer isso através da adoção do poder epocal tecno-lógico e através da sua trans-formação num poder epocal psico-social e sócio-técnico (2021: 245).
Stiegler deixou-nos muito mais do que uma obra. São hipóteses de futuro aquilo que nos deixou em mãos: possibilidades para um controlo de uma espiral que sempre toca os limites do seu eixo e nunca deixa de avançar.
Notas
[1] Stiegler escreve que a única coisa que existe na origem é essa falta, que é justamente uma “falta de origem ou a origem como falta” [le défaut d’origine ou l’origine commme défaut] (1994: 196). Este corresponde a uma adaptação da noção original de Heidegger, schuldigsein ou ser-em-dívida, que o mesmo aborda na segunda secção de Sein und Zeit (1927).
[2] Estes são os objetos pelos quais o fluxo da consciência coletiva do mundo coincide com o fluxo destes objetos temporais (1996: 18). Stiegler escreve que o produto da memória industrial se torna um fluxo no qual aparecem estes objetos temporais (cujo fluxo coincide com o fluxo dos milhões de consciências que o vêem ou escutam) e que tendem a suspender toda a contextualização, e, na sua imediatez, acabam por curto-circuitar a seleção inerente à perceção e memória individuais de cada um (1996: 276- 277).
[3] O conceito de “transindividual” surge no trabalho de Gilbert Simondon, mais concretamente, em L’individuation psychique et collective: A la lumière des notions de forme, information, potentiel et métastabilité para definir a relação entre a individuação psíquica do indivíduo e a individuação dos grupos sociais, coletiva: “A individuação sob a forma de coletivo faz do indivíduo um indivíduo de grupo, associado ao grupo pela realidade pré-individual que ele carrega em si, reunida à de outros indivíduos e que se individua em unidade coletiva. As duas individuações psíquica e coletiva são recíprocas uma por relação à outra; elas permitem definir a categoria do transindividual que tende a dar conta da unidade sistemática de individuação interior (psíquica) e da individuação exterior (coletiva)” (Simondon, 2005: 29).
[4] Cf. Natálio, C. (2019). A Persistência do Cinemático a Partir da Noção de Phármakon. Tese de Doutoramento. [https://run.unl.pt/handle/10362/116361]
Referências bibliográficas
Moore, G. (2021). Bernard Stiegler, 1952-2020. Radical Philosophy 208, Autumn 2020, pp. 108–112.
Natálio, C. (2019). A Persistência do Cinemático a Partir da Noção de Phármakon. Tese de Doutoramento. [https://run.unl.pt/handle/10362/116361]
Rouvroy, A. & Berns. T. (2013). Gouvernementalité algorithmique et perspectives d’émancipation. Le disparate comme condition d’individuation par la relation?. Réseaux, 2013/1, 177, pp.163–196.
Simondon, G. (2005). L’individuation psychique et collective: A la lumière des notions de forme, information, potentiel et métastabilité. Grenoble: Jérôme Millon.
Stiegler, Bernard. (1994). La Technique et le Temps 1. La Faute d’Epimethée. Paris: Galilée.
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–––. (2001). La Technique et le Temps 3. Le Temps du Cinéma et la Question du Mal-Être. Paris: Galilée.
–––. (2004). Mécréance et Discrédit 1. La décadence des démocraties industrielles. Paris: Galilée.
–––. (2010). Ce qui Fait Que la Vie Vaut La Peine D’Être Vécue – De La Pharmacologie. Paris: Flammarion.
–––. (2015). La société automatique 1 – L’Avenir du travail. Paris: Fayard.
–––. (2016). Dans la disruption. Comment ne pas devenir fou? (Kindle). Paris: Éditions Les Liens qui libèrent.
–––. (ed.). (2020a). Bifurquer: L’absolue nécessité. Paris: Éditions Les Liens qui libèrent.
–––. (2020b). Covid-19: Philosopher Bernard Stiegler’s Insight from the Angle of Memory. Trans. Daniel Ross. Academia.edu.
–––. (2021). Elements for a Neganthropology of Automatic Man. Trans. Daniel Ross. Philosophy Today Volume 65, Issue 2 (Spring 2021), pp. 241–264.