Objetos inúteis, recriados e trocados

Encontros inusitados e imprevistos

Em mais uma ida ao mercado municipal de Braga, a 20 de março de 2021, em trabalho de campo para o projeto COMPRAÇA, decididas a deixar-nos levar pelas impressões, sem roteiro definido, eis que, na zona das lavradeiras do dito mercado — pequenos quadrados no chão delimitados a giz, pagos ao dia, onde se vendem sobretudo legumes, ovos, frutas e flores — nos deparámos com uma espécie de instalação composta por objetos manufaturados, com formas, texturas, tamanhos e coloridos surpreendentes e berrantes. O que é que estes objetos querem? O que fazem aqui? A quem estão ligados?

Figura 1: Encontro inusitado – Praça, 20/03/2021 Fonte: Passeio

Detemo-nos para fazer um registo fotográfico. “Também vende uns arranjos feitos por ela. Aquele até tem uma flor verdadeira”, disse a lavradeira ao lado. “Tem a mania que é artista”, continuou, entre sorrisos.
Começou assim a nossa interação com estes objetos e o interesse em os “singularizar” (Dant, 2001), recuperando o que nos podem dizer sobre o lugar que ocupam na vida de quem os cria. Que histórias encerram e qual o seu lugar na história de quem os faz? Como se cruzam tais biografias e o que podem revelar acerca dos contextos sociais de que fazem parte?

Rosa da Silva Pena Oliveira nasceu em 1953 (11 de maio) em Rendufe, Amares (vive em Lago), concelho de Braga. Há cerca de 8 anos, começou a reutilizar materiais tais como caixas de ovos, bases de papel para bolos, caixas de esferovite do peixe, cordas, papel de revistas, caixas de papelão, colheres de plástico, tampas de plástico, garrafas de lixívia… transformando os objetos pré-existentes em objetos criativos, “conforme vem à cabeça” e, regra geral, à noite:

“Faço o que me vem à cabeça. É normal, acho eu. E parece que quanto mais se faz, mais gosto dá” (…) Fazendo de dia eu não consigo fazer isso. É o trabalho que dá os animais, é a casa, é fazer o comer… De dia não consigo, mesmo que esteja a chover (…) É mais ao fim de arrumar a cozinha, de cear, depois sento-me ali meia horinha…mas pronto e quando olho para o relógio… já é meia-noite? Meia hora? Oh! Vou-me embora… Porque estou entretida naquilo e esqueço tudo que passou. Enquanto estiver ali naquilo é a melhor maneira. Quem tiver problemas de saúde ou problemas graves é pensar assim numas coisas e esquecer o resto. Depois no dia seguinte vou de novo a ideia, mas chega a noite e vai outra vez”. (Rosa Oliveira, Conversas na Praça, 19/06/2021)

Tais objetos, compulsivamente produzidos, são ofertados aos familiares próximos, decoram a Festa das Flores de Amares, onde também são vendidos, ou podem ainda ser comprados na Praça — Mercado Municipal de Braga. São feitos conforme “vem a imaginação”, como referido acima, os materiais disponíveis e o fortuito:

“Comecei a pegar uns Tupperware que já não me serviam. E pensei o que vou fazer aqui assim? Oh! Vou fazer estilo uma galinha ou um pato (…) Nessa altura eu ia fazer uma almofada. Só que quando foi.. Acabou-me a linha. E pensei que isso ficava bem era como uma bolsa. Foi quando eu fiz a bolsa. As rolhas são todas cozidas com a lã por dentro. Tem que emendar uma nas outras. Tem que fazer rolinha por rolinha e depois emendar uma nas outras. A minha ideia era fazer tudo de lã, mas depois naquela altura eu já não tinha mais lã e não tinha mais rolhas. Foi a ideia que eu tive. Foi essa” (Rosa Oliveira, Conversas na Praça, 19/06/2021)

O nosso trabalho de singularização dos objetos recriados por Rosa Oliveira incluiu também um processo de seleção e exibição dos mesmos noutro contexto, o de exposição num recinto “nobre” da Praça destinado à promoção de eventos, mas que tem permanecido, a maior parte do tempo, encerrado, dada a situação pandémica e a curta vida da Praça renovada.
Com este processo, os objetos encontrados no chão da Praça, sujeitos a passarem despercebidos, ganharam outra vida. Mudou-se o modo habitual de interagir com eles na Praça, ainda que conservando, melhor dizendo, reforçando os traços da sua proveniência, por duas vias: da afirmação pública de autoria, através da escrita de uma Folha de Exposição, que incluía uma breve nota biográfica, e da promoção de um debate dedicado ao tema “inutilidades e reciclagem com criatividade”, com a participação de Rosa. Transformação momentânea do espaço, dos objetos, da interação com eles e da pessoa,

“Em toda a minha vida eu nunca pensei em estar aqui hoje, nem falar assim com vocês importantes.” (Rosa Oliveira, Conversas na Praça, 19/06/2021)

 

A montagem da exposição e o debate na Praça

Memórias emocionais recicladas e colecionadas

Os objetos recriados por Rosa Oliveira perfazem uma “coleção” em acumulação permanente. Diz Benjamin que “para o colecionador, em cada um dos seus objectos está presente o mundo, e de forma ordenada” (Benjamin, 2019, 75). Os universos a que os objetos de Rosa reportam, porém, não são explícitos nem premeditadamente ordenados. Com o exercício de curadoria a que as investigadoras se dedicaram, procurou-se “descobrir” uma dada “disposição” ou “esquematização” como forma de reconhecer a gramática dos objetos, inter-relacionados a partir de afinidades formais, ainda que semi-inconscientes por parte de Rosa. Assim se identificaram séries fisionómicas — diz ainda Benjamin, “os colecionadores são fisionomistas do mundo das coisas” (2019, 75) —, as bonecas, os galináceos, as jarras, os arranjos, os quadrinhos…

Figura 2: Séries I Fonte: Passeio

Figura 3: Séries II Fonte: Passeio

Figura 4: Séries III Fonte: Passeio

Acresce que podemos entender a coleção de Rosa como uma coleção íntima, para usar a terminologia de Giuliana Bruno (2007), expressão do limiar interior-exterior no qual se localizam os sentidos psicossociais dos objetos em causa. Explorando as interrelações que agregam as cosmografias emocionais e culturais, Bruno (2007) propõe, precisamente, que a partir das múltiplas constelações materiais/formais (arquitetura, cinema, design…) se investiguem as infinitas movimentações semióticas inter-orquestradas, do interior para o exterior e do exterior para o interior. A título exemplificativo, Giuliana Bruno evoca a ideia de museu enquanto (re)coleção interior, apontando a ilustração de Olaus Worm, intitulada Museum Wormianum seu Historia rerum rariurum, de 1655 (imagem de um quarto-maravilha, na génese da ideia de museu). Poderá entender-se, perguntamos, que o exercício (re)criativo de Rosa Oliveira é movido por um dado sentido psicogeográfico, à maneira de um atlas de memórias ou um atlas emocional, na sua proximidade simbólica com a emblemática Carte de Tendre (Madeleine Scudéry, 1654)?
Atente-se que em conversa, na circunstância da abertura da exposição, Bernardo Providência (docente-investigador de design da EAAD – Universidade do Minho, convidado a participar no evento), relevava em particular a dimensão emocional contida na fabricação dos objetos de Rosa. Já off the record, no final do evento, Providência comentava a importância, nomeadamente, de se pensar na coleção de emoções que os objetos expostos acumulam com a natureza híbrida, subjetiva e social, dessas mesmas emoções (e memórias), uma vez que em cada artefacto se narra, mais implícita ou explicitamente, uma história comum ou de propriedade cultural: veja-se o recurso, tal qual narrado, no passado a materiais como a pedra ou a madeira, na arte sacra, de que era criador o pai de Rosa — fenómeno expressivo de uma cultura material à época —, herança que a terá marcado; ou a relação com os objetos-brinquedo, quando esta reporta à condição do espaço doméstico onde avós e netos coabitavam (evocando-se a prática da feitura de brinquedos pelas avós para os netos, avós essas, como terá sido o caso de Rosa — tal qual relatado em conversas de ocasião na Praça —, que em crianças começaram cedo a “trabalhar no campo, sem tempo para brincar”)[1].
Além do mais, convirá não esquecer que os objetos de Rosa, persistindo ainda com a analogia da coleção mnemónica e emocional, poderão ser percebidos no quadro de um sistema, mesmo que indefinido, nas suas intra-relações. Atente-se na seguinte passagem de Benjamin:

“Na arte de coleccionar é fundamental que o objecto seja libertado de todas as suas funções originais, para entrar numa relação o mais estreita possível com os que lhe são semelhantes. Essa relação é diametralmente oposta à utilidade e subsume-se na curiosa categoria da completude. Que se pretende com essa «completude (?) Ela é uma grandiosa tentativa de superar o lado totalmente irracional da sua mera existência através da inserção num novo sistema histórico propositadamente criado, a colecção.” (Benjamin, 2019, 319)

Admitindo-se que os objetos recriados por Rosa Oliveira compõem, de certo modo, uma coleção (não premeditada) em aberto, atendendo a que estes são deslocados das suas funções originais e reinseridos num sistema de interrelações externo ao tempo histórico, é interessante observar que a incompletude da referida coleção (não esquecendo que a “completude” é um princípio que os colecionadores perseguem, precisamente porque uma coleção, qualquer que ela seja, é tanto mais estimulante quanto nunca está completa) se vai atualizando por via da aquisição agenciada pelos sujeitos compradores ou aqueles, mais próximos (sobretudo os familiares), a quem são ofertados os objetos. Tais sujeitos tornam-se, assim, co-colecionadores e guardiões da infinita premência da produção recreativa, capaz de alimentar, sem fim à vista, sempre renovados objetos de “coleção”…

Figura 5: Carteira de tampinhas e lã na Exposição (Praça) Fonte: Passeio

A autora, em conversas de ocasião, vai tecendo pontuais relações entre os objetos “afins”, enfatizando ao mesmo tempo, o seu carácter único. Veja-se, a título de exemplo, o caso da carteira de tampinhas, apresentada entre os objetos vendáveis na Praça, percebida pelas investigadoras enquanto peça singular (e em “destaque” na exposição) pela sua não inscrição, do ponto de vista formal, na estética do restante conjunto de objetos exibido. A propósito da carteira, a autora refere que já havia feito outras e oferecido outrora as mesmas às sobrinhas quando estas eram adolescentes, mas ainda assim diferentes daquela. Mesmo quando lhe fazem encomendas, reconhece que “nunca sai igual”. Assim foi com a carteira, entretanto criada para uma cliente, tendo por modelo a exposta na Praça, encomendada por uma das investigadoras da Passeio, mas desta feita com “alça” arredondada e de proporção adequada à sua estatura.

Brincando aos passados-presentes-futuros possíveis: ruína e utopia

Poderá entender-se o “arquivo” em aberto de Rosa Oliveira como uma coleção de memórias emocionais sobretudo recuperadas a partir do seu universo de infância e transformadas em ruínas utópicas de um tempo já passado, ao mesmo tempo que apresentadas no jogo de troca económica com estatuto de nova temporalidade. É precisamente este “estatuto de nova temporalidade” que, no caso em discussão, conhece contornos particulares. Os objetos de que Rosa é autora não são objetos antigos, do mesmo modo como não são modernos. Acarretam consigo uma natureza híbrida, dilatada sobre a ruína, num sentido, e sobre a utopia, noutro. Falamos em ruína e em utopia, considerando a peculiar ótica de Walter Benjamin. Nos termos do autor, o conceito de ruína é multifacetado. A sua teoria pressupõe o exercício de telescopia o que quer dizer a ativação do passado percebido na sua natureza dinâmica e porosa, distanciada e simultaneamente aproximada do tempo presente. Alterando-se as lentes de observação dos objetos-ruína, altera-se a substância da memória que os mesmos ativam. A ideia de ruína aproxima-se da alegoria, segundo Benjamin, na medida em que se define como um estilhaço deslocado do tempo histórico linear. Esta deslocação possibilita uma releitura do passado que foi transformando-o no passado que poderia ter sido, uma espécie de visão utópica voltada para trás — aqui se imbrica o conceito de utopia benjaminiano. De certo modo, a ruína permite brincar ao faz-de-conta, ensaiar novas potencialidades que cada objeto contém em si mesmo, ao costurar o passado com o presente-futuro. Uma ruína é, operacionalizando-a na forma dos objetos, uma origem em decadência, em vias de se dar à porosidade entre a história, a natureza e o tempo. Potencia, a partir do fragmentário, um campo de possibilidades em expansão. Assim podemos ler os objetos — ou pelo menos alguns deles — de Rosa Oliveira. Não podendo mudar a sua narrativa pessoal de vida, tomando-se aqui um episódio singular, a título exemplificativo, figurado no burrinho em exposição, a autora altera-lhe a auto-perceção, lançando o objeto sobre uma nova temporalidade que, por sua vez, o inscreve num novo campo de sentidos e renovados potenciais usos (Objeto decorativo? Brinquedo?). O burrinho tem origem num ameaçador cavalo, tal qual narrado, imaginado na infância, decaído em burro pelas mãos de Rosa. Trata-se de um objeto que recicla nas suas entranhas papel higiénico, e acoplada uma carroça plástica de feira, ao mesmo tempo que transforma memórias e emoções passadas num exercício de “catarse”:

“Quando eu era pequena, eu tinha 7 anos e já comecei a levar o comer ao meu pai… 7, 9 anos… levar o comer ao meu pai e ao meu irmão. Só que eu passava num sítio que aparecia sempre um cavalo e diziam que ali era um castelo e que apareciam fantasmas. Eu então corria, corria, corria. Chegava a beira do meu pai e já não tinha pratos que partia os pratos. Só chegava lá com a comida. Porque era com o medo do cavalo.” (Rosa Oliveira. Conversas na Praça, 19/06/2021)

Cada objeto é o fragmento de uma historiografia. Admitimos que as histórias e os objetos de Rosa Oliveira, mais do que expressão de uma autobiografia, abrem-se inadvertidamente a uma história social, para lá do sentimentalismo e individualismo evocados. Deste modo defendia Benjamin a possibilidade de um pensamento das estruturas sociais, a partir das suas recordações íntimas, designadamente de infância, narradas em Berlim por volta de 1900, ou Rua de sentido único. É igualmente oportuno convocar Halbwachs (1950), para notar que não existirão memórias estritamente individuais, nem estritamente coletivas, uma vez que estas se entretecem mutuamente.
Remetendo recorrentemente para Halbwachs, Candau (2013) sublinha, precisamente, o carácter polifónico da memória, a sua fabricação a várias vozes. No quadro deste modelo, os objetos podem funcionar como “socio-transmissores”, enquanto “processos concretos de convergência, de encontro e de agregação de recordações” (Candau, 2013, 97), favorecendo conexões.

Figura 6: O burrinho na Exposição (Praça) Fonte: Passeio

O burrinho (e a sua carroça), de Rosa Oliveira, compõem o imaginário infantil de tempos idos. Recriando o burrinho, Rosa recupera um imaginário coletivo em vias de se perder, enquanto procede, muito provavelmente, à sua própria catarse psicográfica. É a manter ativa a sua visão infantil que a autora nos devolve múltiplos objetos-brinquedo: imaginárias galinhas transformadas em galináceos de aspeto híbrido (meio-galinhas, meio-patos, meio-dragões…), pequeninas bonecas de porcelana votadas ao abandono esticadas em altura e transformadas em inesperadas semi-barbies…

Figura 7: As galinhas e os patos na Exposição (Praça) Fonte: Passeio

Figura 8: As semi-barbies no local de trabalho de Rosa Fonte: Passeio

Na imaginação utópica de Rosa cada objeto é a possibilidade de ter sido e de vir a ser outra coisa. E essa possibilidade não é um sonho, mas uma materialidade utópico-decadente, decorrente da transformação de materiais despojados da sua função original: frascos de vidro, pratos de porcelana ou plástico, tubos de cartão de enrolar o papel de cozinha, caixas de papelão dos ovos, rolhas de plástico das garrafas de refrigerantes… Renovar o inútil ou renovar o antigo (note-se que a renovação é um princípio já perseguido por Benjamin enquanto prática mimética infantil de relação com o mundo da matéria), corresponde a uma estratégia pragmática e simbólica, possivelmente inconsciente, que no exercício de reciclagem de Rosa Oliveira se observa. À maneira de Benjamin, transformar o passado em passados possíveis ou reinventados sugere futuros alternativos (Leslie, 1999, 65).
No seu ensaio “Toys and play”, de 1928, Benjamin refere que é o ato imaginativo de brincar, culturalmente determinado, assim como determinado pela classe, que faz o brinquedo e não o brinquedo que determina a brincadeira (Leslie, 1999, 66).
Em contrapeso com uma infância vivida num contexto rural marcado pela carência de bens materiais básicos, cenário de resto dominante à época, em Portugal, os objetos de Rosa apresentam-se excessivos na profusão de cores e materiais, excessivos na sua função decorativa predominante, excessivos no carácter compulsivo da sua fabricação (“todos os dias ao serão e muitas vezes noite dentro”, conforme relato da autora).
Revertendo, com especial criatividade, o destino dos objetos obsoletos que sobram das nossas práticas banais de consumo (caixas, embalagens, frascos…), a autora, ainda que não de forma intencional, convida-nos a um confronto com essas mesmas inutilidades, mostrando-nos, possibilidades novas de sentidos outros. Os efeitos de absoluta despersonalização a que os objetos de consumo massivo, os excedentes, o lixo, são hoje votados, convertem-se, surpreendentemente, em artefactos carregados de cascatas de emoções e de memórias. Cada objeto recriado torna-se único, carregado de histórias e de emoções, enquanto ao mesmo tempo adquire uma renovada capacidade comunicativa na relação com aqueles cujo imaginário (e imaginação) ali ganha expressão psicossocial. Cada reinventado objeto-ruína de Rosa Oliveira desenha uma nova porosidade, entre o sagrado e o profano, o campo e a cidade, o espaço doméstico e o espaço público, a narrativa individual e a história social.

Notas

[1] Ambos os aspetos foram apontados por Bernardo Providência, em conversa na Praça, no dia da Abertura da Exposição. Ver vídeo da conversa aqui.

Referências

Benjamin, Walter. 2019. As passagens de Paris. (J. Barrento, Trad. e Ed.). Lisboa: Assírio & Alvim.
Bruno, Giuliana. 2007. Atlas of emotion. Journeys in art, architecture, and film. Nova Iorque: Verso.
Candau, Joöel. 2013. Antropologia da memória. Lisboa: Instituto Piaget.
Dant, Tim. 2001. “Fruitbox/Toolbox: biography and objects”. Auto/Biography, vol. IX, 1&2: 11-20.
Halbwachs, Maurice. 1950. La mémoire collective. Paris: PUF.
Leslie, E. (1999). “Telescoping the microscopic object: Benjamin the collector”. In A. Coles (Ed.), The optic of Walter Benjamin. Londres: Black Dog Publishing Limited, 58-91.