Álbum Índia Portuguesa 1951-1961

Durante a ditadura em Portugal muitos migraram para as colónias e outros territórios, por razões económicas ou políticas. Foi o caso dos meus avós, que sempre se opuseram e lutaram contra o regime e que, como muitos, se viram forçados a sair do “Portugal Metropolitano”.

Em 1951, partiram para Goa, a bordo do “Índia”.

Entre o escasso espólio que deixaram encontravam-se álbuns de fotografias e as cartas que a minha avó escrevera à sua mãe, que estava em Lisboa, durante o período em que viveram na então “Índia Portuguesa”, entre 1951 e 1961.

Assumindo estes álbuns de família e as cartas como um arquivo, criei um trabalho no qual usei a performance para o registo fotográfico. Este trabalho resulta da pesquisa sobre as suas vidas, durante este período de dez anos, procurando desvendar e reinterpretar o que ficou por dizer, por vezes ficcionando e preenchendo os vazios existentes. Descobrindo no arquivo da minha família a sua história guardada durante tantos anos, acabei por conhecer de novo estas duas pessoas que conheci toda a minha vida.
Este projecto aborda as possibilidades da apropriação e interpretação de um arquivo através da prática artística na construção de novas narrativas. Partindo dos álbuns de família como um arquivo, através da disciplina fotográfica, e da abordagem artística na (re)construção de uma história que é simultaneamente pessoal e colectiva.

Os vários elementos que constituem o arquivo (as cartas; as fotografias nos álbuns de família; alguns documentos como convites, plantas desenhadas ou recortes de jornais; e alguns objectos pessoais como joias, roupa, ou outros objectos vários) foram utilizados como peças de um puzzle na (re)construção de uma história. Foi a partir destes elementos que construí o projecto, re-apropriando-me das fotografias do álbum, re-enquadrando-as, e fazendo a ligação entre estas, as histórias contadas nas cartas, e os objectos. O reenquadramento das imagens para o formato quadrado permite uma homogeneização das mesmas, optando igualmente por impedir a identificação dos retratados nessas fotografias do arquivo.
É na conjunção destes elementos que o arquivo se torna narrativa, e é nos seus vazios que se encontra o espaço para a sua interpretação.

O vídeo, apresentado aqui, é uma revisitação a este projecto, e em particular ao livro (publicado em 2017). O folhear do livro, ao som da leitura das cartas, permite uma “viagem” àquela que foi a experiência da minha avó, durante este período da sua vida. O intercalar dos acontecimentos pessoais, juntamente com os acontecimentos históricos, é também o que permite uma contextualização destes episódios.
Este intercalar da memória pessoal, com a memória colectiva e histórica, é um dos elementos fulcrais no meu trabalho e na minha investigação.

As imagens podem ser vistas aqui