A redação destas breves notas lançou-me em dilema de consciência que caracteriza bem a nossa noção atual de comunicação. O dilema é este: sinto, por um lado, uma fundamental desconfiança em relação aos estudos, debates e publicações – reservadas algumas ocorrências esporádicas espacio-temporalmente – que vêm sendo realizadas no Brasil, desde longa data, sobre a comunicação humana. Do outro lado sinto o prazer e a emoção de ver lançado à debate aberto um pensamento que tem perambulado em mim há algum tempo e que proponho colocá-lo em cheque a partir deste exato instante.
O risco assumido desde já torna-se responsável (isto é: admite resposta) na medida em que a própria consciência prepara-se para jogo dialético; como se estivesse pronta para o franco combate entre ela própria e seus possíveis desafiadores. Ao mesmo tempo, o dilema se configura justamente por haver esse sentimento, já colocado anteriormente, de irresponsabilidade diante de algumas posições metodológicas e epistemológicas apresentadas até hoje. Este «quase» representa alguns poucos pensadores brasileiros nos quais busco fôlego para dar algum tipo de seqüência – de mãos dadas e em sociedade – a este lance louco rumo ao abismo tenebroso da nossa comunicação. A saída do dilema que encontrei foi esta.
O pensamento filosófico responsável em geral brota do próprio núcleo existencial e avança contra os problemas que se lhe opõem sem respeito pelas conseqüências de tal avanço. A sua única meta é penetrar os problemas, iluminá-los de dentro, e, se possível, explodi-los. A nossa meta específica em relação ao nosso problema particular, no empenho de lançá-lo novamente ao universo tenebroso do qual nunca deveria ter saído, é explodi-lo e complexificá-lo ainda mais. É dar início à construção de uma teia de relações que nos permitam dizer que a simplificação atribuída ao objeto – através de um discurso segundo o qual a nossa comunicação é um mero sistema lógico de transmissão de sinais, ou até mesmo que a nossa comunicação é sistema de emissão e recepção de signos, onde sujeito é minimizado em sua capacidade cognitiva e observado redutoramente na condição de codificador e/ou decodificador de sinais – nos trouxe graves problemas epistemológicos e que «[…] apenas uma visão transdisciplinar poderá enxergar o objeto plurifacetado que é o processo comunicativo do homem […]»1. Para tanto, basta um único movimento: projeção.
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