O sentir em rede: Entrevista a Massimo Di Felice


Massimo Di Felice (Itália): professor, pesquisador e escritor, tem experiência nas áreas de Sociologia, Antropologia e Comunicação, com ênfase em Comunicação Digital, atuando principalmente nos seguintes temas: aspectos teóricos da comunicação digital, formas comunicativas do habitar, pós-política, net-ativismo, sociabilidades em rede, novos espaços públicos digitais. Possui graduação em Sociologia – Università degli Studi La Sapienza (1993), doutoramento em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (2001) e pós-doutoramento em Sociologia pela Universidade Paris Descartes V, Sorbonne (2012). É professor da Universidade de São Paulo, ministrando aulas na graduação e pós-graduação da Escola de Comunicações e Artes (ECA/USP), onde fundou o Centro Internacional de Pesquisa Atopos. É professor visitante nas Universidades Roma III e Sapienza di Roma (Itália), Université Paul-Valéry Montpellier III (França), Universidade Lusófona (Portugal). É autor de diversos livros, tais como Paisagens pós-urbanas: o fim da experiência urbana e as formas comunicativas do habitar (2009), publicado no Brasil, em França, em Itália e em Portugal, e Net-ativismo: da ação social para o ato conectivo (2018), publicado no Brasil e em Itália.

Entrevista conduzida por Marina Magalhães com registo e edição de Matheus Soares.

1- Marina Magalhães [MM]: No livro Do Sentir (Editorial Presença, 1993) o filósofo italiano Mario Perniola declarou que a estética orienta-se não por ter uma relação privilegiada e direta com as artes, mas segundo um campo estratégico que não é cognitivo nem prático, situado na esfera do sentir. Como você avalia as experiências do sentir na era das redes sociais digitais?

2- Você descreve, a partir do conceito de net-ativismo, a complexidade das interações em rede entre seres humanos e não-humanos, possibilitadas pelo processo de digitalização. Quando tratamos, então, dos movimentos net-ativistas  que vêm surgindo de forma espontânea em diversas latitudes do mundo, estes são interpretados como sinais de um modelo obsoleto de democracia. Na sua opinião, qual é o papel das tecnologias digitais na construção de novas formas de participação e cidadania?

3- A História tem mostrado que a cada revolução comunicativa corresponde um modelo participativo distinto. Depois da oralidade e do teatro na democracia ateniense, da tipografia e da difusão de livros na sociedade a contrato e da construção da esfera pública impressa e eletrificada, vivenciamos uma nova revolução comunicativa em curso: a das redes digitais de última geração, da inteligência artificial, do blockchain, do big data, da internet das coisas, da robótica, etc.  Qual o desafio das teorias sociais diante deste novo cenário, que se transforma numa velocidade quase inacessível para os pesquisadores da área?

4- No texto “Estéticas pós-humanistas e forma atópicas do habitar”, publicado no livro Pós-humanismo (2010), você avalia a estética contemporânea na dimensão de uma atopia, isto é, “de uma espacialidade e de um habitar informe que remetem a espaços corpos e tecnologias como territórios atópicos, tecnologicamente manipuláveis e sempre em transformação”. As tecno-geografias criadas pelas paisagens sonoras e sintéticas das festas rave são analisadas como exemplos deste conceito. Quais seriam as suas expressões mais recentes?

5- Nos campos das artes, em tempos de composições transorgânicas, desenvolvidas através de redes colaborativas compostas por entidades de naturezas diversas, da troca fluida entre orgânico e inorgânico, ainda é possível falar no conceito de autoria?