A entrevista à artista emergente Jéssica Burrinha foi conduzida por Francisca Gigante e filmada por Francisco Teles da Gama. Burrinha é escultora há mais de 10 anos, uma artista que afirma gostar de trabalhar com vários materiais orgânicos. A conversa ocorreu no estúdio da autora, no Barreiro. É neste lugar que trabalha com a terra, um recurso natural que considera “infinitamente reciclável”. Aqui, assume que procura incessantemente diferentes formas de trabalhar com esta matéria-prima, nos seus diferentes estados – “húmido, viscoso, seco” – como base de trabalho para a sua eco arte. Tal como refere Gigante, as suas obras estão, por isso, sujeitas a uma passagem do tempo, à degradação, ao envelhecimento, à mutação e à adaptação. Especialmente, as In Materiae Veritas (2019) ou Terra Feita de Tempo (2019), onde vemos a linha do tempo nesta composição da terra. O seu objetivo é que a eco arte esmiúce questões como a poluição ou as alterações climáticas. E, de igual forma, aborde outros temas como questões pós-coloniais, como em Decadência (2019), onde a artista refere a simbologia dos materiais, onde o “povo é a terra vermelha, a base da estrutura da sociedade, e o pó fino é o poder e o luxo”.
Jéssica Burrinha (Barreiro, 1993) é escultora e investiga a interação entre o espaço e a terra compactada. Licenciada e Mestre em Escultura pela Faculdade de Belas-Artes de Lisboa. Expõe desde 2015, tendo participado em diversas exposições em Portugal e Espanha, incluindo a Art Madrid18 e a XXI Bienal Internacional de Arte de Cerveira. Inspirada na natureza, recebeu várias menções honrosas e prémios pelo seu trabalho. Trabalha com materiais como madeira, cimento, gesso e terra compactada, explorando sempre a interação entre espaço e matéria. As suas esculturas “vivas” degradam-se e regeneram-se ao longo do tempo, refletindo a simplicidade e a pureza dos materiais essenciais.