A entrevista a Raquel Lima foi conduzida por João Pedro Soares e Fábio Silva, editores deste número da Interact, dedicado à ecologia e ao pós-colonialismo. A conversa teve lugar no espaço Alkantara, em Lisboa, onde a artista e investigadora se encontra em residência para a sua performance Úlulu, com estreia marcada no Teatro do Bairro Alto entre os dias 3 e 5 de abril às 19h30.
Partindo do trabalho desenvolvido nesta residência, a entrevista explorou questões centrais do espetáculo e as suas conexões com a ecologia, a diáspora e a ressonância de valores ancestrais da africaneidade.
Raquel Lima é poeta, artista transdisciplinar e investigadora. Tem apresentado o seu trabalho em vários países da Europa, América e África em eventos de literatura, performance, artes visuais, música e ciências sociais. Destaca a sua participação na 8.ª Bienal de São Tomé e Príncipe, na 59.ª Bienal de Veneza, e na 35.ª Bienal de São Paulo. A sua investigação centra-se em oratura, memória, práticas contemporâneas de escape, abstração e cura, e movimentos afro diaspóricos. É licenciada em Estudos Artísticos e doutoranda em Estudos Pós-Coloniais. Publicou o livro Ingenuidade Inocência Ignorância e é uma das co-fundadoras da UNA – União Negra das Artes.
Úlulu de Raquel Lima
Sinopse
Úlulu quer dizer placenta em forro ou lúngwa santomé. Segundo um ritual antigo da cultura são-tomense, o úlulu é plantado, juntamente com o cordão umbilical, no grande quintal da família. Assim, segundo as gerações mais antigas, as crianças crescem e viajam pelo mundo mas sabem sempre regressar à terra onde nascem. Nesta performance, três criaturas-criadoras evocam a música, o movimento, a poesia e a paisagem na busca de cordões de transmissão e nutrição, enquanto especulam e repetem rituais para harmonizar colapso e regeneração, e levantar questões: E se pertencer a geografias não-humanas for uma solução face à extinção que se avizinha? Como fazê-lo sem desperdiçar a memória de rituais úteis para essa transmutação? Onde deixar pistas para uma eventual fuga em direção ao retorno?
Créditos Direção Artística e Criação: Raquel Lima. Interpretação: Maria Palmira Joaquim, Okan Kayma e Raquel Lima.Cenografia: Eneida Tavares. Desenho de Luz: Lui L’Abbate. Figurinos: Neusa Trovoada. Sonoplastia e Composição Original: Okan Kayma. Vídeo / Filmagens: Sara Morais. Movimento: Lucília Raimundo. Consultora de Cosmovisão Indígena: Tobi Ayé. Apoio à criação: Danilo Lopes. Olhar Externo: Dori Nigro. Produção: Joana Costa Santos. Administração: Agência 25. Coprodução: Teatro do Bairro Alto, Teatro Municipal do Porto / FITEI. Coprodução em residência: OSSO, Alkantara, O Espaço do Tempo. Apoio: República Portuguesa – Cultura / DGARTES – Direção-Geral das Artes, Rural Vivo, Câmara Municipal de Lisboa / Polo Cultural das Gaivotas, Santos & Monteiro.
Fábio Silva (Lisboa, 1992) fez mestrado em Cinema na Escola Superior de Teatro e Cinema. Em 2020 estreia “A Morte de Isaac” e no ano seguinte “Fruto do Vosso Ventre”, curtas-metragens selecionadas em vários festivais nacionais e internacionais. É doutorando em Estudos Artísticos na Universidade Nova de Lisboa (com bolsa da FCT). A sua pesquisa centra-se em questões pós-coloniais, e nas representações cinematográficas das comunidades africanas e afrodescendentes.
João Pedro Soares (Almada, 1995) é cineasta, investigador e escritor. Licenciado em Artes e Humanidades pela Universidade de Lisboa, fez mestrado em Argumento e Realização na ESTC. O seu trabalho abrange cinema, fotografia e escrita, com foco nas relações entre humano-natureza, ecologia, futuros regenerativos e na interseção entre arte e agricultura. É doutorando em Estudos Artísticos na NOVA FCSH, com investigação sobre ecologia no cinema documental português contemporâneo. Realizou as curtas-metragens premiadas “Retrato de um homem enquanto ilha” (Prémio Novos Talentos Fnac 2021) e “A Incessante Conquista da Escuridão”, ambas exibidas em grandes festivais. Publicou ensaios, contos e poesia.