O Digital é de Ontem: Entrevista a Elvira Leite

A presente entrevista aponta para a existência de uma considerável quantidade de artistas e designers em idade de jubilação que testemunharam o surgimento das ferramentas digitais e as incorporaram nos seus processos de trabalho, de forma direta ou indireta. A evidência que sustenta a presente argumentação é de natureza empírica, e converge com a convicção de que a presença da arte no universo digital em Portugal precede numa geração a expectativa generalizada de que aquele seria primeiramente protagonizado por uma geração mais jovem. No âmbito do presente artigo, esta evidência centra-se no caso da artista Elvira Leite, sem prejuízo de a literacia digital se vir a encontrar de forma recorrente junto de uma parte considerável de artistas e designers da sua geração.

O contacto com a obra e vida destes artistas desenrolou-se em conversa presencial nas suas casas ou nos seus ateliers em simultâneo com uma análise de artefactos visuais que ilustram as suas histórias de vida. Trata-se de uma geração dominada pela prática através da manualidade, pela tertúlia e sobretudo pelas relações interpessoais.

Com 83 anos, a artista e educadora Elvira Leite mantém uma grande familiaridade com o computador e com a comunicação digital. Do contacto passivo com a rede à vontade de se envolver de forma mais ativa através da difusão de um blog ou outro tipo de canal de comunicação digital, a artista confessa que “por minha vontade envolver-me-ia em tudo!” (2019, comunicação pessoal, 15 Janeiro). Elvira nunca se sentiu desajustada no tempo, defendendo que o segredo para esse bem-estar reside na capacidade de acompanhar o mundo em que vivemos. A presente entrevista incide sobre a juventude intelectual de Elvira Leite e no conjunto de escolhas que a definem como uma personalidade que abraça diariamente o presente e todas as surpresas que o futuro possa reservar.

A entrevista com Elvira Leite está integrada numa análise alargada da vida e obra de um grupo de artistas que se licenciou na Escola Superior de Belas Artes do Porto, nos anos sessenta e setenta, coincidente com o período pré e pós da revolução social e política de 25 de Abril de 1974. O conjunto de 27 entrevistas realizadas entre Dezembro de 2018 e Março de 2019, decorre no âmbito do projeto “Transferência de Sabedoria, contributos para a inscrição científica de legados individuais em contextos de reforma universitária e científica nas Artes e Design”. (POCI-01-0145-FEDER-029038).

 

Nota introdutória
A entrevista decorreu sob a forma de uma conversa, assente num guião de questões abertas, o que permitiu uma maior flexibilidade e a fluidez de discurso. Desta forma as questões aqui apresentadas são apontamentos para o tema desenvolvido em cada vídeo pela artista.

Projeto Wisdom Transfer POCI-01-0145-FEDER-029038 [WT]: 1. Sobre a “juventude intelectual” nesta geração de professores/artistas. O tempo e o mundo actual.

WT: 2. O despertar da “professora/artista”. Sobre o contacto com classes etárias mais jovens, como algo determinante para um espírito sempre recetivo à mudança. A Escola Superior de Belas Artes e o despertar de uma vocação.

WT: 3. A direção do Mestre Carlos Ramos, a cumplicidade entre professores e alunos como fator determinante para uma constante recetividade a novos métodos e novas formas de disseminar conhecimento. Por outro lado, foi também fundamental na formação individual e intelectual de uma geração.

WT: 4. Sobre o ensino e a arte.

WT: 5. Desafiar o sistema de ensino e a criação de um legado de grande valor aos profissionais que a seguiram. A equipa de trabalho: a construção a pares com Manuela Malpique e Luísa Marinho Leite.

WT: 6. Sobre a importância da formação contínua. A vocação e a motivação como elementos determinantes para a investigação no ensino.