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 Dirty Mind (1995), Luísa Cunha

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> Estrada em Obras (1997), Augusto Alves da Silva

> Dirty Mind (1995), Luísa Cunha

Dirty Mind é um jogo sobre os meios mínimos: o de um curto registo sonoro de uma voz emitida em looping através de uma coluna de som e o de uma persiana vermelha em pvc. Mais seria de facto menos nesta obra de inspiração minimal cujo efeito reside tão simplesmente na repetição sonora das frases que lhe reforça o centripetismo do espaço e o efeito de contracção do espectador, e ao qual se vem associar uma persiana vermelha que se entreabre ligeiramente como que permitindo uma brecha para um olhar. Colocados estes media em contraposição no espaço, a nossa posição é a própria de uma instalação, a do meio. Aqui vemos a linha de transparência da persiana e compreendemos que não está ali para nos servir, mas para sermos objecto do nosso próprio papel. Não funciona como uma janela ou fechadura de uma porta, a sua abertura é espectral, dobra-se na nossa direcção e apanha-nos.

Apanha-nos na inquietude de estarmos a ser observados, de a obra nos devolver essa posição milenar que com ela mantivémos, de nos vermos confrontados com a descrição de um comportamento que é muitas vezes o nosso enquanto espectadores, de sentirmos afinal neste zigue-zague uma «falta de espaço»- expressão paradoxal de uma sensação que aqui não nasce porém das condições espaciais apresentadas mas do facto da nossa posição ser instabilizada e de nos sentirmos em causa, interrogados. «Falta de espaço» é sobretudo o reenvio moderno do espectador para uma outra condição, a da instrospecção quase espectral, e para, afinal, a própria experiência de se ser espectador. Em causa a recepção estética própria àquele que, como a voz denuncia, entra, aproxima-se, sai e desaparece. Atarefado, induzido pela pressa de tudo ver, pelo hábito de ser sujeito distraído.

A designação Dirty Mind associar-se-á aqui também aos hábitos voyeuristas do homem moderno compactado nas multidões da cidade mas diferido das experiências dos outros, e por vezes das suas. A esse olhar multidireccional, quase sempre cativo das máquinas e dos equipamentos da imagem, se vem dar aqui resposta através da inacessibilidade e total ausência de imagens exteriores, até porque o equipamento ou não funciona como seria devido, como é o caso da persiana, ou, como é o caso do registo sonoro, reitera incansavelmente o próprio acto de ver do «vigilante», aprisionando-o em jeito de Medusa nas suas próprias armas. «Dirty Mind» é por isso e antes de mais uma acusação, mas que aqui servirá também o ofício de ser um veículo para uma punição.

Victor M. E. Flores