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 Estrada em Obras (1997), Augusto Alves da Silva

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> Estrada em Obras (1997), Augusto Alves da Silva

> Dirty Mind (1995), Luísa Cunha

Estrada em obras é uma viagem encenada e posta em curso por duas máquinas projectoras de slides. Objecto já antigo e porém ainda muito novo, a máquina de slides ao ser hoje progressivamente afastada do trabalho pelos softwares da informática e pelos apelidados «barcos» que lhes projectam electronicamente a imagem, vê refundado o seu sentido doméstico e semi-privado que em muito se associa às sessões caseiras de visionamento e revisitação das nossas viagens. Slide atrás de slide introduz, pela substituição e continuidade, o cinetismo, a sucessão de breves olhares e a experiência em primeira mão inerentes a uma viagem. É para uma viagem que nos preparamos cada vez que resgatamos o aparelho do seu canto lá de casa. A par deste simbolismo que o seu uso recupera na actualidade, esta instalação propõe-nos através de dois projectores o sincronismo da desactualização do antes com a actualização do depois próprios da transição espacio-temporal que é viajar. Numa das paredes da sala um dos projectores ilumina o percurso percorrido. É o percurso das imagens que a criança regista sempre que se pendura no banco traseiro a olhar para trás, fascinando-a o recuo da estrada, essa rebobinagem do antes. Na parede oposta constrói-se o trajecto contrário, o do avanço firme, confiante, «adulto», sem desvios de olhar, e onde cada imagem é actualizada por uma maior proximidade, por um maior contacto com o depois. Estas são as imagens de uma estrada em obras no norte de Espanha, captadas ao meio da estrada cada dez metros num percurso total de cerca de um quilómetro e meio. A força destas imagens que se colam umas às outras de três em três segundos, sem no entanto constituirem um verdadeiro fluxo, reside sobretudo num reenquadramento da percepção óptica e sensorial- muito lentamente os referentes (montanhas, pessoas, animais, viaturas, sinais de trânsito) substituem-se e desaparecem, são apenas anamneses, redutos de um inconsciente óptico, espectros que logo a seguir não asseguramos ali terem estado, mas que contudo a cada clac, clac nos fazem sentir deslocar desse mesmo espaço intercalar que partilhamos com a máquina viajante. Metáfora da experiência do tempo, viagem simples e completa em 324 precisos avanços de um motor, a instalação joga, por fim, como o reconhece Isabel Carlos, comissária da exposição, com uma «matemática do devir: aparentemente nada acontece mas tudo está em permanente mudança, e no entanto, podemos nunca nos dar conta desse constante fluir.»(1)

(1) Isabel Carlos in Catálogo da Exposição Initiare, p.16

Victor M. E. Flores