O fenómeno
mais inquietante dos tempos que correm é sem duvida o
processo da pedofilia. Em poucos anos uma palavra que nem
sequer era referida nos dicionários na primeira metade do século
XX tornou-se uma palavra de ordem com tal força que para além
de ter instabilizado as instituições do estado moderno
desafia também todas as interpretações . Não se trata de
um fenómeno localizado regionalmente. Portugal na altura em
que elaboro este trabalho, Agosto de 2003, vive em sangue o
processo da pedofilia. Em pleno processo portanto qualquer
tentativa de interpretação corre o risco de ser especulativa
e prematura. O cenário português da pedofilia será
concerteza diferente consoante os arguidos ( 13 em Agosto de
2003 com o processo ainda em fase de investigação ) sejam
considerados culpados ou inocentes.
Como o
demonstra o próprio fenómeno da pedofilia qualquer
interpretação incompleta é tão ou mais perigosa que o
problema em si. A questão é
exactamente esta: - Como escapar ao moderno conflito de
discursos sobre sexualidade que procura assenhorear-se da
interpretação do fenómeno
da pedofilia? Um conflito que de certa forma foi responsável
e potenciador do fenómeno.
O conflito
basicamente é entre os defensores da liberdade sexual,
entendida num sentido lato como direito às identidades
diferentes e os ultra-radicais de direita representados
sobretudo pelos pastores das novas igrejas religiosas. Entre
os primeiros encontra-se um grupo vasto de esquerdistas órfãos
do comunismo, do socialismo, do anarquismo que após
Maio de 68, descrentes da revolução ideológica, se
voltaram para a sexualidade como único resíduo da liberdade
e portanto da alteração do sistema social. Para reforçar as
visões que deram origem à “gender cultura” muito
contribuíram as analises de Foucault defendendo que o sistema
ocidental se apoia numa disciplina dos corpos e num controlo
da sexualidade. Os ultra-radicais de direita aproveitaram-se
desta emergente da cultura de géneros e diferenças sexuais
para comporem um modelo demoníaco do Outro, sobre o qual
baseiam toda a sua lógica politica. Em ambos os lados o
discurso centrou-se sobre a homossexualidade,
que praticamente dominou toda a discussão sobre a
sexualidade. Este quadro que pôs a sexualidade no centro do
debate ocidental, não se debruçou, sabemo-lo agora
verdadeiramente a essência do sexo. Ao combater as mediações
que impediam a verdadeira erótica ou seja a ligação pura
o debate esqueceu que a ligação directa ao outro pode
exactamente por isso ser a mais violenta. A utilização do
sexo para fins políticos, académicos ( a perseguição ao
sujeito e à racionalidade ) ou simplesmente identitários não
nos aproximou mais da verdadeira essência do sexualidade,
pelo contrário esqueceu ou tolerou algumas das
potencialidades mais perigosas. Exactamente ali onde uma geração
de pensadores viu a possibilidade mais bela da existência –
uma pedagogia sexual, que libertasse a criança dos tabus
sexuais – aconteceu
precisamente o pior dos perigos, o exercício brutal de um
poder sem limites, a ligação mestre/escravo absoluta – o
fim da experiência.
A Interact
dispõe-se a acompanhar o fenómeno. Acompanhar é a palavra
que busca não o descomprometimento com a vontade de reflexão
mas o cuidado a ter com um tema que não perdoa interpretações
precárias. Segue-se um pequeno dossier
que pretende passar por alguns momentos essenciais do
fenómeno da pedofilia nos anos 90.
1
– O momento inaugural é sem duvida o “ caso Dutroux”
na Bélgica. Muitos consideram que é exagero comparar
o caso Dutroux, brutal, com
outros casos de pedofilia. Mas na emergência dos fenómenos
existe sempre uma dinâmica incontrolável. A densidade, a
dimensão, o poder traumático que o Caso Dutroux produziu é
incontornável:
“
Dutroux foi
condenado em 1989 , junto com sua esposa, por
violação e abuso violento de cinco meninas, a mais
nova das quais tinha apenas onze anos. Na altura Dutroux foi
sentenciado a treze anos pelos crimes, mas foi libertado três
anos depois por “ bom comportamento”. Isto apesar do
director da prisão Yvan Stuaert ter afirmado mais tarde a uma
comissão parlamentar: "um relatório médico descreveu-o
como um psicopata perverso, uma mistura explosiva. Era um
perigo evidente à sociedade."
Em
1996, Dutroux, então com 39 anos, apesar de desempregado (
era electricista de profissão ) possuía várias vivendas. Em
13 de agosto, foi
preso depois de entregar as autoridades duas adolescentes, que
ele havia mantido em cativeiro numa das casa - em Sars-la
Buissiare. O cativeiro foi praticado na cave da casa e o
acesso era feito por um túnel.
As meninas estavam
presas numa cela , totalmente inacessível. A policia
seguiu a pista de Dutroux quando uma pessoa anotou as matrículas
da sua carrinha após o desaparecimento de Laetitia, uma
menina de 14 anos que voltava da natação Dutroux foi condenado em 1989 , junto com sua esposa, por
violação e abuso violento de cinco meninas, a mais
nova das quais tinha apenas onze anos. Na altura Dutroux foi
sentenciado a treze anos pelos crimes, mas foi libertado três
anos depois por “ bom comportamento”. Isto apesar do
director da prisão Yvan Stuaert ter afirmado mais tarde a uma
comissão parlamentar: "um relatório médico descreveu-o
como um psicopata perverso, uma mistura explosiva. Era um
perigo evidente à sociedade."
Em
1996, Dutroux, então com 39 anos, apesar de desempregado (
era electricista de profissão ) possuía várias vivendas. Em
13 de agosto, foi
preso depois de entregar as autoridades duas adolescentes, que
ele havia mantido em cativeiro numa das casa - em Sars-la
Buissiare. O cativeiro foi praticado na cave da casa e o
acesso era feito por um túnel.
As meninas estavam
presas numa cela , totalmente inacessível ão.
Na
casa encontraram esta menina e mais outra adolescente, Sabine,
12 anos, desaparecida há 3 meses. As duas haviam sido
sexualmente abusadas. Quatro dias depois a policia descobriu
no quintal de Marc Dutroux os restos mortais de duas meninas
de 8 anos, Julie e Melissa, que morreram à
fome na altura da sua primeira detenção em 1989.
Outro corpo encontrado foi o de Bernard Weinstein, um sócio
assassinado por Dutroux e, segundo este, “culpado” por não alimentar as
meninas presas..
Os seus rendimentos
lucrativos deviam-se
aos negócios em
pornografia, escravatura sexual e prostituição de crianças.
Muitas de suas casas pareciam estar vagas, mas algumas delas
estavam de facto sendo usadas como centros da tortura e de
aprisionamento onde as menina serão abusadas filmadas e
fotografadas.
Em
Abril de 1998 , conseguiu fugir da prisão mas foi recapturado
três horas depois.
Dois
ministros, o da Justiça e o do Interior, pediram demissão.
"É um desastre político", limitou-se a comentar
outro ministro.. [i]
2
– Nos Estados Unidos é a Igreja que está no epicentro do
fenómeno
de
abusos sexuais a menores.
“ A
Arquidiocese de New York entrega à Polícia una lista
de sacerdotes acusados de pedofilia – AGÊNCIA EFE
NOVA
YORK.- La Arquidiocese de
Nova Iorque entregou, ao fiscal do distrito de Manhatan uma
lista com nomes de sacerdotes católicos que foram
relacionados com abusos sexuais de menores o que representa
uma mudança radical na sua postura. Contrariando a sua reticência
histórica em colaborar no esclarecimento dos assuntos
obscuros de alguns dos seus membros, a instituição
compromete-se a informar a policia de qualquer acusação se
existirem causa razoáveis.
Segundo
informou o porta- voz desta instituição nova-iorquina,
Joseph Zwilling, a lista foi confeccionada a partir dos
arquivos de pessoal sobre sacerdotes dos últimos 35 a 40
anos, ainda que não tenha precisado o número de casos que
contem a informação agora entregue. Não obstante, fontes
policiais citadas pela cadeia de televisão local NY1
suspeitam que só contem os casos que
Arquidiocese considerou que mereciam ser denunciados.
Este
documento foi entregue depois da divulgação de vários escândalos de pedofilia
que implicavam sacerdotes da Igreja Católica nos EUA. Desde
que no inicio do
ano um sacerdote de Boston foi condenado por abuso de umas 130
crianças, produziu-se uma onda de denuncias acerca de outros
que terão cometido abusos sexuais. Esta semana, outro padre
foi detido no bairro
nova-iorquino de Queens acusado de violar a uma criança de 7
anos , em Massachusetts, entre 1973 y 1980.
3
– Na Alemanha o envolvimento de Cohn Bendit num caso de
Pedofilia estende o julgamento à história do pensamento:
“
2002. Finais de Janeiro. Bettina Röhl, a filha da terrorista
alemã Ulrike Meinhof, fornece a diversos jornais, «The
Observer», «L'Express», «La Repubblica», um texto de
Daniel Cohn-Bendit, um dos lideres do Maio de
68, actualmente deputado europeu, um texto extraído do
seu livro « O Grande Bazar» (publicado na editora Belfond em
1975). Ela subentende nalgumas passagens do livro um
“passado pedófilo ” . Reportando a sua experiência num
jardim de infância alternativo, de Frankfurt, Cohn-Bendit
dava conta da curiosidade sexual das crianças que lhe abriam
por vezes a braguilha. «O desejo deles colocava-me um
problema [...] Mas
eles insistiam e eu acariciava-os apesar de tudo ». A partir
daqui, enorme polémica. Através de Cohn-Bendit , é toda uma
época que é posta em causa . Bendit defende-se dizendo “ O
que me podem censurar é o meu desejo de provocação”. ».
4
- Gide, Sartre, Foucault, Sollers estão agora no sitio onde
esteve Heidegger acusado e perseguido por ter defendido o
nacional-socialismo. Existem erros insuportáveis para o
pensamento?
“A
19 de janeiro de 1977, em Paris deviam ser julgados por actos
pedófilos três pessoas
MM. Dejager, Gallien et Bruckardt. No jornal LE MONDE
de 26 de Janeiro pode-se ler a seguinte petição:
"Nós consideramos que existe uma desproporção
manifesta entre a qualificação de ‘crime’ que justifica
uma tal severidade e a natureza dos factos considerados; por
outro ., entre o caracter desajustado da lei e a realidade
quotidiana de uma sociedade que tende a reconhecer nas crianças
e nos adolescentes a existência de uma vida sexual ( se uma
criança de 13 anos tem direito à pílula e para fazer o quê?”
.TRÊS ANOS DE PRISÃO POR BEIJOS E CARÍCIAS; BASTA! Nós não
entendemos que a 29 de Janeiro Dejager, Gallien et Bruckardt não
encontrem a liberdade,”
Quem assina ? Aragon, Bernard Kouchner, André
Glucksmann, François Chatelet, Jack Lang e outros de Félix
Guattari a Patrice Chéreau ou Daniel Guérin. Um pouco mais
tarde uma carta aberta à comissão de revisão do código
penal exigia que sejam “ anulados ou profundamente alterados
“, os artigos da lei respeitantes ao “desvio de menores”
no sentido de um “ reconhecimento do direito da criança e
do adolescente a desenvolver relações com pessoas à sua
escolha”. Quem assina? Jean-Paul
Sartre, Michel Foucault, Roland Barthes, Simone de Beauvoir,
Alain Robbe-Grillet, Françoise Dolto, Jacques Derrida,
Philippe Sollers. Interrogado
hoje Sollers afirma que não se recorda” Havia tantas petições.
Assinava-se quase automaticamente”.
Eu
devo-vos confessar que eu fui bastante cedi “adultófilo”
e que as minhas primeiras aventuras
sexuais, datando da idade de 13-14 anos com uma mulher
bastante mais velha, me faziam tombar sobre a alçada da lei.
Evidentemente que existem abismos entre os 7 ou 9 – idade da
Lolita de Nabokov – e 13-14 anos.No texto que eu assinei e
que deve datar dos anos 1974-75, considerar que a “ inteira
liberdade dos parceiros de uma relação sexual é a condição
necessária e suficiente da legitimidade de uma relação
sexual” é efectivamente naive – porque quem julga a
completa liberdade dos parceiros? É não suspeitar que pode aí
haver razão de força ou poder.
«
O que me espanta é que o problema das violências exercidas
sobre as crianças não era um problema da sociedade na época.
Tornou-se um problema talvez por causa da extensão sem
precedentes da prostituição infantil e do turismo sexual em
alta escala. Na época em que eu assino o texto sem
verdadeiramente o ler porque fazia parte das reivindicações
libertárias, eu estava na onda de Freud e ia ouvir Lacan. É
impossível ter uma consciência mais desperta sem a percepção
de que os adolescente pré-puberdade não falam a mesma
linguagem dos adultos. Quanto ao julgamento do esquerdismo –
os de “sessenta e oito destruíram a escola, a família ...
aí entramos na hipocrisia política, numa ofensiva que se
deve apelidar de direita ou reaccionária. Ir buscar o Fischer
e o Cohn-Bendit de há trinta anos, isso é enorme.».
Philippe
Sollers - Ecrivain, «Il y a des abîmes entre 7 ans et 13 ans»,
Recueilli par MARIE GUICHOUX, Libération,23 fevrier 2001, p.
4.
5 –
Durante anos as palavras de Willem Reich foram os
mandamentos da “Revolução Sexual”. E agora como
reler estas frases?
"
A miséria sexual da sociedade autoritária-patriarcal é a
consequência da negação e da representação sexual que as
caracterizam, e que provocam em todos os indivíduos que ela
serve, neuroses, perversões e crimes sexuais. Segue-se que
uma sociedade que não pratica a repressão sexual não sofre
de miséria sexual. (...)A liberdade e a independência da
criança estende-se também ao domínio sexual. Para começar,
as crianças vêem e aprendem muito observando a vida sexual
dos adultos.”
"(...)
Mas nenhuma dúvida
é agora possível: a revolução sexual progride e nenhuma
potência do mundo vai parar o seu curso. Falta-lhe apenas uma
direcção racional para lhe permitir atingir o seu
objectivo”.
(Wilhelm
Reich, "L'irruption de la morale sexuelle", Petite
bibliothèque Payot)
"Eu
assumo este gosto erótico! Desde a idade de doze anos que
gosto das pequenas raparigas e dos adolescentes mais ou menos
púberes, eu nunca o escondi, nunca mudei” " (...)
Estas histórias à volta da pedofilia , estão-se a tornar
grotescas. O que é repreensível é a intimidação e, no
limite, a remuneração. Porque quem diz remuneração diz
proxenetismo, quase sempre. O que importa é o consentimento
espontâneo." (...)
"
Quando conheci Balthus ele vivia com Laurence Bataille, a
filha de Georges e de Sylvia Bataille. Laurence tinha doze
anos e isso não chocava nem a pequena rapariga nem os pais. Régine
Olsen, a heroina de ‘La reprise’ de Kierkegaard, tinha 14
anos quando o grande filósofo cristão caiu de amores por ela
e três anos depois ficaram noivos. Goethe, no fim da sua vida
escreveu a célebre Elegia de Marienbad dedicando ao seu
ultimo grande amor, uma rapariga de 13 anos e meio. A Julieta
de Shakespeare tinha a mesma idade! Na época uma rapariga de
treze ou catorze anos era sexualmente considerada uma mulher.
Alain
Robbe-Grillet (Entretien
avec Catherine Argand, Lire, octobre 2001)
“Dans
le Petit Larousse de 1936, les mots pédéraste et pédophile
sont introuvables. Dans
le Littré en 10/18 (1964), je lis à pédérastie : vice
contre nature. Rien à pédophilie. Qu'y a-t-il de commun
entre pédérastie et pédophilie ? Le Robert donne à pédérastie
: empr. du gr. paiderasteia, de erân, « aimer », et paidos
« enfant, jeune garçon » : commerce charnel de l'homme avec
le jeune garçon et, par ext., toute pratique homosexuelle
masculine. Ainsi le supplément au Robert (1975) peut-il
donner pédale pour pédéraste, c'est-à-dire homosexuel”
6 – O
Internet só tinha até agora ostentado o paradigma libertário.
Uma técnica iria por si só, finalmente, libertar do
absolutismo das mediações unilaterais, absolutas e
fascizantes. As ligações sem limite, o acesso directo ao
outro iria significar sem duvida uma libertação. Mas o que
se liberta? Onde está a lição do “Aprendiz de
feiticeiro” a imagem da desmesura e caos do sujeito
controlador quando sente que tudo está ao seu alcance? Afinal
onde fica exactamente a caixa de Pandora?
“O
guitarrista e líder da banda de rock The Who,Pete Townshend,
recebeu uma advertência formal da polícia britânica por ter
acedido páginas na Internet em que são divulgadas fotos eróticas
de menores.
Cerca
de 1,6 mil pessoas, entre elas o músico, foram presas na Grã-Bretanha
por terem dado seus detalhes com o objectivo de ter livre
acesso ao site americano com fotos de crianças.”
BBC BRASIL, 07 de janeiro,
2003
7 - Existe
neste fenómeno um encontro de duas predações modernas: - o
desejo de possuir o outro sem limites, sem mediações e o
desejo de violar as imagens poderosas ( as figuras publicas )
que parecem sufocar a experiência moderna dos sujeitos. É
porque a predação à imagem é de tal forma avassaladora e
exclusiva na actualidade que o imaginário da sua queda é tão
fruível também. As cadeias sempre se encheram de pedófilos
mas jamais como nos anos 90 o painel da representações ( ídolos
da pop., políticos, comunicadores perfeitos ).
“Em
1993, o fantasma de pedofilia entrou na vida de Michel Jackson
quando um miúdo de 13 anos o acusou de ser abusador sexual.
Michel Jackson gosta de convidar miúdos para visitar a sua
casa de fantasia- Neverland – na Califórnia.
O artista pagou uma soma astronómica à família do
jovem para que o caso não fosse levado a julgamento. Em 2003
o fantasma voltou a aparecer quando num documentário
televisivo realizado por Martin Bashir, Michel Jackson afirma
com grande candura que e gosta de convida alguns miúdos para
dormirem no seu quarto.”
Tim
Roth faz uma pausa: «Sim. Quando temos situações como esta
da pedofilia, incesto são as pessoas que delas foram vitimas
que se vêem postos em cena. Os verdadeiros pedófilos são
“realizadores”: eles aprendem a manipular as crianças. São
verdadeiros diabos, encenadores diabólicos. Se soubesse o que
se passa, e quem eles são ter-se-ia certamente desejo de os
matar. Eu sou pai e vivo em pânico com os meus filhos. Porque
o que eu conto, é a minha própria experiência, porque eu
fui vitima de pedofilia dos 3 aos 13 anos. Pode-se dizer tudo
o que se quiser do filme, estou-me lixando: eu sei do que
falo.”
Um
olhar escondido assinala que neste instante, o actor não procura fazer nenhuma chantagem com o sucedido. Ele dá
uma informação imprevista, que estoira no espaço denso do
estúdio como um petardo. Nagui fica sem voz: isto não está
nas suas fichas. Premeditado ou não por Roth, o seu acting
incontornável sai, sem pré-aviso, como na vida, transtorna
porque teve lugar neste espaço frívolo, que não foi feito
para isto, interdito ao sério..
Revelações
do actor-realizador Tim Roth, sexta-feira 17 de Janeiro de
2000, na emissão de Nagui no Canal+
Com
esta inventariação precária e algo desarrumada, não
pretendo aqui fazer nem um processo de levantamento exaustivo,
nem o julgamento da pedofilia. Os momentos do fenómeno acima
apresentados foram escolhidos a “seco” para permitir uma
reflexão o menos mediatizada possível. Outros casos foram
importantes. Outra lógica de arrumação era possível. Mas há
um silêncio quando o silêncio se rompe,
as crianças começaram a falar ....
[i] As “notícias” que não
estão identificadas, foram escritas por mim a partir de
informações recolhidas na Internet e posteriormente
comprovadas. O formato noticia é mantido para reforçar a
dimensão factual e diferenciar dos tópicos analíticos
|