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  Notas de leitura do livro de António Machuco Rosa,
  Dos Sistemas Centrados aos Sistemas Acentrados

  [ Jorge Giro ]

          
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O meu percurso académico passou tanto pela Filosofia  como pelas Ciências da Computação e Matemática. Os menos avisados não deixavam de achar algo estranho que alguém se pudesse interessar por áreas aparentemente tão díspares. Eu nunca deixei de julgar que pensar não poderia    deixar de assentar nalguma forma de medida daquilo sobre que se pensa. Neste sentido sempre me pareceu evidente que a Matemática, como qualquer outra ciência, pudesse fornecer aos filósofos ferramentas essenciais para o exercício da sua actividade fundamental.

Este livro de António Machuco Rosa, assim como o pensamento que o sustenta, julgo ilustrar bem o que acabei de referir: um diálogo filosófico que não se faz na hermenêutica de essências vazias, mas nasce antes do confronto com os modelos científicos e matemáticos numa reflexão que analisa e critica o seu poder explicativo nas áreas de interesse do autor - e são muitas.
Considerando a hipótese segundo a qual as estruturas centradas[1] e acentradas constituem os dois princípios da ordem dos sistemas, são analisados um conjunto de modelos teóricos, procurando-se apontar no sentido do delineamento de uma matriz transdisciplinar do pensamento actual. As áreas tratadas passam pela física, ciências da computação, biologia, economia e ciências da cognição. O último capítulo do livro toma como base um conjunto de modelos de fenómenos sociais, os designados modelos baseados em agentes,  de que o autor destaca o modelo de Schelling[2], mostrando como a teoria de R. Girard permite compreender a emergência de certos centros a partir de mecanismos locais. É um processo que leva à formação de uma estrutura imaginária e exterior aos sujeitos a partir de um processo que  no entanto lhe é puramente imanente[3], ideia que o autor também desenvolveu em anterior número da Interact[4] Finalmente, o autor leva a cabo uma  análise extensa do desenvolvimento da Internet para reflectir sobre a dualidade centrado/acentrado e desmistificar  uma eventual ideia pós-moderna de que os modelos acentrados seriam "melhores" que os centrados: "...resta no entanto que a passagem ao que designamos por acentrismo social envolve uma ilusão, e que a redução das dinâmicas rápidas dos sistemas complexos a dinâmicas lentas permanecerá um processo fundamental de diversas formas de organização humana."
Não se tratando, por vezes, de um livro de leitura fácil, o saber e rigor nele contidos, assim como a abertura a novas e actuais abordagens dos temas propostos, merecem e convidam a uma leitura atenta. Eu diria mesmo, de leitura fundamental para o público universitário em geral.

 Dos Sistemas Centrados aos Sistemas Acentrados, Vega, 2002, 286 págs.

 



[1]

[2]

[3] Uma dimensão fundamental do imaginário que consiste na projecção de uma causalidade local numa causa global exterior e transcendente a todos eles.

[4] Clique aqui para visionar o artigo do autor onde esta ideia é desenvolvida.