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  livro de António Machuco Rosa, assim como o pensamento que o sustenta, julgo
  ilustrar bem o que acabei de referir: um diálogo filosófico que não se faz na
  hermenêutica de essências vazias, mas nasce antes do confronto com os modelos
  científicos e matemáticos numa reflexão que analisa e critica o seu poder
  explicativo nas áreas de interesse do autor - e são muitas.Considerando a hipótese segundo a qual as estruturas centradas[1]
  e acentradas constituem os dois princípios da ordem dos sistemas, são
  analisados um conjunto de modelos teóricos, procurando-se apontar no sentido
  do delineamento de uma matriz transdisciplinar do pensamento actual. As áreas
  tratadas passam pela física, ciências da computação, biologia, economia e ciências
  da cognição. O último capítulo do livro toma como base um conjunto de modelos
  de fenómenos sociais, os designados modelos baseados em agentes,  de que o autor destaca o modelo de
  Schelling[2], mostrando
  como a teoria de R. Girard permite compreender a emergência de certos centros
  a partir de mecanismos locais. É um processo que leva à formação de uma
  estrutura imaginária e exterior aos sujeitos a partir de um processo que  no entanto lhe é puramente imanente[3],
  ideia que o autor também desenvolveu em anterior número da Interact[4]
  Finalmente, o autor leva a cabo uma 
  análise extensa do desenvolvimento da Internet para reflectir sobre a
  dualidade centrado/acentrado e desmistificar  uma eventual ideia
  pós-moderna de que os modelos acentrados seriam "melhores" que os
  centrados: "...resta no entanto que a passagem ao que designamos por
  acentrismo social envolve uma ilusão, e que a redução das dinâmicas rápidas
  dos sistemas complexos a dinâmicas lentas permanecerá um processo fundamental
  de diversas formas de organização humana."
 Não se tratando, por vezes, de um livro de leitura fácil, o saber e rigor
  nele contidos, assim como a abertura a novas e actuais abordagens dos temas
  propostos, merecem e convidam a uma leitura atenta. Eu diria mesmo, de
  leitura fundamental para o público universitário em geral.
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