Introdução
O meu título poderia
facilmente sugerir a tentação de seguir um caminho
que o gosto da taxonomia ou a superstição substancialista
dos conceitos aceitariam sem hesitação. Podíamos
seguir o rasto das palavras - "modo" / "moda", "moderno",
"modernidade", "modernismo" e outras, suas derivadas e afins
- e procurar exemplos do seu uso, na miragem de lhes
fixar um sentido. Desiludamo-nos. "Moderno" não
significa praticamente nada hoje, como já não
significava para Pessoa, para quem moderna é toda a
civilização europeia pós-antiga. Será
preferível começar por interrogar a história
e sobretudo questionar o uso ingénuo, desproblematizado
e inoperante do conceito de "moderno", tão facilmente
"naturalizável" - como tantos outros, a começar
pelo de "natureza". Para isso, convém não esquecer
que há uma historicidade das categorias históricas.
"Moderno" tornou-se, como sabemos, uma categoria histórica
e tipológica. Mas a sua tendência natural vai
mais para o tipológico (com as inevitáveis pretensões
de universalidade) do que para o uso historizado (com a necessária
remissão para um dado momento no tempo ou uma manifestação
histórica identificável). Esse pendor tipologizante
e universalizante cai geralmente, no uso mais corrente do
termo, numa contradição: uma categoria que se
pretende tipológica, que se quer aplicável a
manifestações de qualquer tempo, é referida
a parâmetros históricos, já historizados,
do "moderno", que associam hoje o conceito, ou a um período
da história da arte e da literatura do século
XX (e então, "moderno" será o que se opõe
ao "tradicional", um conceito ainda mais impreciso
(1)), ou a um período
da história das ideias, que parte do Iluminismo e terá
tido morte definitiva, mas também muito contestada,
com o advento do chamado "pós-moderno" (e neste novo
contexto, "moderno" tanto pode ser equivalente de "progressista"
como de "racionalista"). Sem darmos por isso, confundimos
já "moderno" com "modernista" ou "iluminista". A confusão
é perigosa, as definições são
insuficientes.
Temos de reconhecer que
a resposta à questão "Que significa 'moderno'?",
posta nesta forma assim absoluta, é uma missão
impossível. É sempre mais fácil, e faz
mais sentido, tentar responder à pergunta: "Que significa
ser moderno hoje?" - como fizeram Cassiodoro no século
VI, os intervenientes na Querelle... em 1687, os Românticos
alemães em 1800, Baudelaire ao tomar por referência
(como medida de defesa e precaução) a pintura
de Constantin de Guy (2),
Antero, ao publicar as Odes Modernas em 1865, os Naturalistas
alemães no manifesto "Dez teses sobre a literatura
moderna", lido numa associação literária
de Berlim em 1886 (3),
Freud ou Georg Simmel quando analisam o "nervosismo moderno"
no contexto explícito da civilização
urbana, Aragon, na sequência da aventura estética
e política do Surrealismo, em 1930 ("Qu'est-ce qu'être
moderne aujourd'hui?"), ou mesmo Pessoa quando, no Livro
do Desassossego, define o moderno em termos só
pensáveis no contexto dos modernismos, como atitude
de inconformismo e autonomia estética: "Escapar às
regras e dizer cousas inúteis resume bem a attitude
essencialmente moderna." (LD II, 26). A resposta à
nossa pergunta torna-se uma tarefa insensata e quase impossível,
porque a questão tem pelo menos um milénio de
existência, na sua vertente mais antiga (4),
e mais de dois séculos de discussão, na sua
versão mais recente. Tudo o que sobre ela se possa
dizer ressentir-se-á dessa sua história, hoje
totalmente discursivizada (vd. Bragança de Miranda
1994: 11-18). Quando Kant, em 1784, escreve o seu célebre
texto Resposta à questão: O que é
o Iluminismo?, ele está a viver o começo
de um processo que é precisamente o das Luzes. Hoje,
qualquer síntese sobre a questão do moderno
que não queira ser uma mera acumulação
de factos, referências e testemunhos, tem de obrigar-se
a si própria a ser uma construção.
Tentemos então construir um quadro de referências,
usos, sentidos, problemas e contradições em
cujo centro vamos encontrar o termo, o conceito, a categoria
- estética, filosófica, sociológica e
histórica - do "moderno" e seus derivados.
Depois de um breve percurso
pela história da palavra, importa assinalar
as etapas fundamentais da sua evolução semântica
e da sua história no âmbito do pensamento,
da historiografia, da estética e da sociologia, preencher
ao máximo todo o campo dos conceitos afins,
para, ao distinguir, começar a clarificar, recolher
os testemunhos que nos permitam entender cada conceito
na concreticidade das suas relações com uma
experiência, um tempo e um lugar, enfim, tentar a síntese
da questionação actual do problema, numa
situação em que, paradoxalmente, se proclamou
o fim da modernidade e da era do moderno - estamos irremediavelmente
condenados a não poder ser modernos! -, e a superação
de todos os modernismos, mas em que o termo que aqui nos interessa
continua a ser usado com a maior das naturalidades. Uma situação
- esquecemo-nos facilmente disso - que já tem mais
de trinta anos, desde que o americano Leslie Fiedler, para
poder justificar e nomear o fenómeno emergente da arte
pop, usou o termo "pós-modernidade"
(5) e proclamou a necessidade
de "fechar o abismo" que separava essa nova arte da dos "modernos"
da primeira metade do século, e de "atravessar a fronteira"
para entrar em novos-velhos territórios, os de uma
reaproximação entre arte e vida. A sua fórmula,
que haveria de ser esquecida na Europa pelas polémicas
geradas por Jean-François Lyotard e a sua obra A
Condição Pós-moderna (1979), era,
em 1965, "close the gap and cross the border" (Fiedler,
1965). Para além do voluntarismo que a informa (sintomático
de um desejo de ser época próprio desta, ainda
nossa, fase "pós-moderna"), a fórmula levanta
também já toda a questão da epocologia,
das razões ou desrazões que determinam os cortes
(epistemológicos, sociais, estéticos) que se
instituem para marcar o começo de épocas a que
se chama modernas, de modernidade, modernistas ou pós-modernas/pós-modernistas.
Que esses cortes são arbitrários, construções
de conveniência, instrumentos meramente discursivos,
já o disse Hans Blumenberg, ao lembrar que "na história
não há começos, alguém os institui
como tal". Não perderemos, por isso, de vista esta
questão, interrogando sempre cada um desses cortes
no sentido de saber: Que acontecimentos ou factos explicam
ou justificam tais cortes (roturas, viragens)? Por que se
consideram eles modernos, e em relação a quê?
Ao colocar estas questões, iremos configurando progressivamente
uma concepção de modernidade feita das
mais díspares ideias do moderno.
A história de uma
palavra e o destino de um conceito
Para organizar sumariamente
a história da palavra e a evolução semântica
do conceito, alinho já alguns momentos nucleares na
história do "moderno". O termo (tal como o de "moda")
deriva do latim modo (ablativo de modus), que
refere aquilo que é de agora, do instante, recente
ou circunstancial. E. R. Curtius assinala, em Literatura
Europeia e Idade Média Latina, o aparecimento do
termo modernus na Alta Idade Média, como herança
linguística tardo-latina, com dois sentidos, o de "actual"
e o de "novo" (está já aqui a distinção
entre o uso histórico e o tipológico de "moderno").
A partir daí, é possível organizar a
história das palavras e dos conceitos (moderno, modernidade
e modernismo) em várias etapas que me parecem cobrir
a totalidade do espectro de significações de
"moderno", os domínios em que se desenrolam as metamorfoses
do conceito e as diversas "apostas" filósóficas
subjacentes:
1. Uma proto-fase, a
da Idade Média, que, não tendo a obsessão
de ser moderna (6),
recorre ao termo para se demarcar do mundo antigo. A grande
aposta desta "modernidade" em que, no século VI, surge
a primeira oposição antiqui-moderni (em
Cassiodoro), é a aposta no teológico.
2. A Idade Moderna, um
conceito da historiografia política, da ciência
e do pensamento, em que o moderno se refere, tanto ao mundo
pós-teológico e pós-feudal da secularização
e da auto-afirmação burguesa, como à
nova filosofia e à nova ciência que, na viragem
do século XVI para o XVII, e como se lê num célebre
poema de John Donne, "tudo põem em dúvida".
A aposta faz-se agora no mundo e no homem.
3. A modernidade das
Luzes, o Iluminismo como era moderna de afirmação
do sujeito triunfante e da Razão crítica
- e será esta última a grande aposta desta modernidade
das Luzes que, segundo Jürgen Habermas, é ainda
o "projecto inacabado" da nossa "pós-modernidade".
4. O Romantismo, que
a si próprio se vê como sinónimo de moderno
(isto é, novo), quer na sua versão transcendental
(a primeira geração alemã, em 1800),
quer nas suas versões nacionalistas (os romantismos
europeus mais tardios). No processo histórico do século
XVIII, entre Iluminismo e Romantismo, a modernidade terá
como referencial maior uma classe e uma ordem social, com
implicações em todos os campos da vida e da
experiência. Derivando da emancipação
das ciências nos começos da Idade Moderna, o
moderno ganha agora contornos ideológico-críticos
apoiados no novo individualismo burguês; inicia-se um
processo de autonomização dos campos do saber,
e também da literatura e da arte; nascem o autor como
criador "independente" e a instância do mercado literário;
a obra liberta-se das normas e funda-se na experiência
subjectiva, a estética (proposta em 1750 por Baumgarten)
substitui-se às poéticas, a originalidade à
convenção. O postulado da autonomia estética,
formulado por Kant, provoca uma revolução no
modo de encarar a produção e a recepção
da obra de arte, que perdurará até hoje (com
alguns ataques desferidos em certos momentos pelas vanguardas
dadaísta ou pop), radicalizando-se nos postulados da
arte pela arte que Mallarmé e o abstraccionismo moderno
tentariam levar às últimas consequências.
A aposta do Romantismo decidiu-se, no final deste processo,
pelo Absoluto (que tanto pode a Natureza como a Arte,
o Eu ou a Nação).
5. A modernité,
a modernidade como projecto estético inovador, em Baudelaire,
usa pela primeira vez o termo para o fazer entrar numa dialéctica
com a antiquité, da qual o conceito sairá
com o sentido de: arte que realiza a eternização
do instante. Um sentido, aliás, que ela já tinha
nos primeiros românticos alemães, para quem o
romântico (que agora é sinónimo de moderno)
é a capacidade de elevar o comum a uma potência
superior. Percebe-se melhor, através desta filiação,
a inclusão do conhecido ensaio de Baudelaire sobre
a modernidade - "Le peintre de la vie moderne" - num volume
intitulado L'art romantique, em 1868. Também
Pessoa verá, no Livro do Desassossego (I, 42-43)
o Romantismo como moderno, isto é simbolista: na arte
romântico-simbolista dá-se "a exteriorização
do sonho e do que há dentro de nós".
6. As "modernidades programáticas"
do Fin-de-siècle (Simbolismo, Esteticismo, Decadentismo,
Impressionismo, Arte Nova...), versão soft,
estetizante, dos modernismos posteriores. Pela primeira vez
a ideia de modernidade, sempre vista como evolução,
época, movimento no tempo (desde o século
XVIII), dá lugar à de Modernidade como pluralidade
de processos e conteúdos de um amplo movimento artístico
na sincronia (antes e depois de 1900).
7. Os Modernismos, versão
em geral dura e pura de uma modernidade que (para alguns)
remonta aos Simbolismos do século anterior (ou mesmo
ao Romantismo), e para outros se confunde com as vanguardas
históricas, explosão espectacular e re-vitalizada
dos modernismos (ou também já a sua negação,
como acontece com Dada). Todos estes momentos da modernidade
estética, de Baudelaire aos modernismos, se orientam
progressivamente por uma aposta no Nada, sendo, como
são, expressão estética de um niilismo
filosófico que, já na segunda metade do século
XIX, abre essas duas grandes crateras que foram o vazio ético
e o cepticismo em relação ao sujeito (cuja "dissociação"
se acentua) e à linguagem (que toma consciência
dos seus limites). Estas serão as marcas inconfundíveis
de quase tudo o que, daí para cá, se chamou
"moderno".
8. O pós-modernismo
e as pós-modernidades, entendidos como reacções,
dispersas e diversas, à ditadura da razão, à
ambição totalitária e impossível
das "grandes narrativas" filosóficas e literárias
e ao purismo asséptico, formalista e moralista, do
tardo-modernismo, com o seu exacerbado "cânone de proibições"
e tabus (Adorno), característico, tanto de toda uma
vertente filosófica e sociológica da crítica
da cultura enquanto crítica da modernidade (que, desde
Nietzsche e Kierkegaard, se continua pelo século XX,
com Max Weber e Georg Simmel, Walter Benjamin e a "Teoria
Crítica" da Escola de Frankfurt), como também
da arquitectura do cubo e da função, da pintura
abstracta e conceptual, do nouveau roman e da poesia
neo-hermética, de Ungaretti a Paul Celan. O pós-moderno,
com as suas estéticas do simulacro, da imitação,
do kitsch e do virtual, com o seu hibridismo genológico,
os jogos com o leitor, a ideia do Eu como ilusão da
linguagem e a da realidade como mera possibilidade, fez a
sua grande aposta, descomplexada e lúdica, no "Como
se" (o que é fosse o que é e este mundo
fosse o melhor dos mundos). Com isto, mais não faz
do que requentar Nietzsche, que levou bem mais a sério
a sua crítica do mundo como fábula, da linguagem
como mentira vital, da verdade como metáfora, do sujeito
como construção periclitante e do conhecimento
como ilusão perspectivista - e enlouqueceu. Muitos
"modernos" serão também levados à loucura
e ao suicídio por uma pulsão trágica,
enquanto que a pulsão lúdica do espírito
pós-moderno o leva a jogar criativamente com o desconcerto
do mundo.
A
aventura moderna do moderno
A
história do moderno nos últimos 250 anos - o
processo daquilo a que frequentemente chamamos ainda "a nossa"
modernidade - é a história de uma dialéctica,
de uma tensão criativa e de uma afirmação
irreversível. A dialéctica é a daquela
rede de contradições que leva a razão
crítica a degenerar em razão instrumental e
mesmo totalitária, e que ficou conhecida por "dialéctica
da Aufklärung" (ou do Iluminismo), o título do
importante livro de Theodor Adorno e Max Horkheimer (de 1944);
a tensão criativa é a que resulta do choque,
extremamente produtivo, entre a arte e o social, que se instala
o mais tardar com o Romantismo (no Norte da Europa, em França
e na Alemanha, essa tensão surge já antes);
e a afirmação irreversível é a
do postulado kantiano da autonomia estética (também
ele já prenunciado na publicação da primeira
Estética, a de Baumgarten, em 1750, que dá
o golpe de misericórdia nas poéticas normativas
dominantes). Este postulado da Terceira Crítica de
Kant assinala a rotura definitiva com as tutelas da arte:
apesar das repetidas tentativas de tutelagem, que continuam
a fazer-se hoje por meios bem mais subtis do que a teologia,
o poder absoluto ou as ideologias totalitárias, a nossa
consciência do estético tornou-se desde então
inseparável da ideia de um domínio com autonomia,
se não absoluta, pelo menos relativa.
Da convergência
destes três movimentos, que se iniciam todos, embora
não em simultâneo, na segunda metade do século
XVIII, nasce o dinamismo de uma ideia que é ainda em
larga medida a nossa ideia do "moderno" (alguns marcos mais
tardios, muitas vezes referidos como balizas da nossa modernidade
sociológica e estética - em particular os casos
de Marx e de Baudelaire - mais não são do que
etapas e desenvolvimentos deste processo, que vem de Rousseau,
de Kant e do primeiro Romantismo alemão). Esta ideia
do moderno tem alimentado, quer a produção artística,
quer a reflexão sobre ela, e também teorias
e polémicas sem fim, a ponto de hoje podermos falar,
paradoxalmente, de uma "tradição do moderno",
que parece ter chegado a um certo esgotamento, nomeadamente
no que se refere à proliferação de discursos
sobre a modernidade.
Antoine Compagnon
explorou, em Les cinq paradoxes de la modernité
(1990), esta tradição-traição
de uma modernidade que se torna tradicional (tradição
essa que hoje - e isto é o pós-moderno em estado
puro! - se faz passar pelo climax da modernidade), ou de uma
superstição do novo que - como já
Hans Magnus Enzensberger viu em 1962, ao escrever sobre as
aporias da vanguarda -, na sua ânsia de ser sempre mais
novo, se esgota rapidamente, entrando num ciclo do eterno
retorno de um mesmo que se quer fazer passar por outro. Mas
isto tem mais a ver com a idolatria futurista ou com a obsessão
(edipiana) da morte da arte, de que as vanguardas precisam
para se afirmar, do que com aquele culto melancólico
do novo - e este é outro paradoxo - que trai em Baudelaire
aquela que terá sido talvez a mais produtiva contradição
dos "modernos" desde o Romantismo: a tensão entre a
vontade do novo (a "religião do futuro", como lhe chama
Compagnon, na esteira de Baudelaire) e a nostalgia das
origens - quer estas se chamem Idade Média idealizada,
regresso à natureza, primitivismo, "anywhere out of
this world" (nos Poèmes en prose de Baudelaire),
atavismos de vária ordem, ou até mesmo aquela
mítica adoração futurista da máquina
mais como dinamismo puro, manifestação de força
e energia (a par da guerra), do que como produto da técnica
moderna. Só neste contexto se entende o "spleen" baudelairiano
(o "j'ai plus de souvenirs que si j'avais mille ans"), a atracção
do "poète actif" pelas multidões, ou a referência
de Baudelaire ao progresso como "ce fanal obscur" ("esse facho
obscuro"), que ilumina o caminho para diante mas ao preço,
elevadíssimo, do mergulho no obscurantismo da alienação.
A melhor alegoria desta visão dúplice do progresso
será porventura a conhecida Tese IX de Walter Benjamin
"Sobre o conceito da História", em que o Anjo do novo,
de costas para o futuro, é empurrado por um vendaval
que sopra do paraíso, tendo à sua frente um
montão de ruínas (um dos poetas mais emblemáticos
do modernismo do século XX, Paul Valéry, repete
a imagem no seu Mon Faust, quando escreve: "nous entrons
dans l'avenir à reculons"). E a mesma contradição
sustenta, ainda em Baudelaire, a escrita, já não
simbólica, mas modernamente alegórica, de poemas
como "O cisne" ("Paris change!, mais rien dans ma mélancolie
/ N'a bougé! (...) tout pour moi devient allégorie")
e, em última análise, a própria ideia
da modernidade como o lugar de encontro do fugidio e do eterno,
tal como surge no sempre citado soneto "À une passante",
ou, melhor definida, em "O pintor da vida moderna", "este
solitário dotado de uma imaginação activa,
sempre viajando pelo grande deserto do homem (...)
[e que] procura qualquer coisa a que nos permitiremos chamar
a modernidade (...). Trata-se, para ele, de retirar
da moda aquilo que ela pode conter de poético no histórico,
de extrair o eterno do transitório (...). A modernidade
é o transitório, o fugidio, o contingente, a
metade da arte, cuja outra metade é o eterno e o imutável"
(Baudelaire 1993: 21).
Estamos no centro
(até cronologicamente falando) de um processo de modernidade
como crise, intuída, mas ainda não
plenamente assumida, pelos românticos (e já por
Rousseau, no plano do pensamento), vivida por Baudelaire
em meados do século XIX (vivida ainda como um inesgotável
e excitante manancial para a criação), e interiorizada,
cerebralizada e extremada por Pessoa, que da consciência
da crise fez quartel-general da sua inquietude. Nele, essa
crise é já só consciência crítica,
hiperlúcida e trágica, sem o júbilo sonhador
ou a elevação transcendental dos românticos,
o inebriamento melancólico de Baudelaire, ou o visionarismo
de Rilke. O que se deu, neste processo crítico, nesta
viagem da modernidade pela crise, foi a passagem da idade
clássica a uma aventura romântico-moderna em
que a possibilidade de experiência (Erfahrung,
no diagnóstico de Walter Benjamin), objectivada em
tradições e convenções da língua
e dos símbolos da vida colectiva, dá lugar à
solidão radical da vivência (Erlebnis
em Benjamin), ou da vivência radical, fruto da "invenção
do indivíduo" pelos Romantismos.
Esta dicotomia podia
transpor-se, numa análise das duas modernidades aqui
implícitas - a iluminista e a "modernista", ou a filosófica
e a estética - para a própria relação
entre estas duas vertentes do processo histórico e
artístico desde o século XVIII. A relação
entre as duas, uma convivência tensa desde o início,
é definida por um sociólogo como Alain Touraine
em função do que considera serem as duas grandes
figuras da modernidade: a Razão e o Sujeito.
De facto, assim é. E é bom não esquecer
que o dinamismo e a produtividade teórica e estética
da nossa modernidade se devem essencialmente ao facto de a
segunda destas figuras - o Sujeito - se ter transformado desde
logo na consciência crítica da primeira: ao longo
do século XIX, torna-se evidente como a afirmação
da liberdade individual entra em conflito com as pretensões
universalistas de uma Razão que a princípio
se apresenta triunfante e absoluta, para progressivamente
se ir remetendo a um lugar já só instrumental,
nas sociedades do consumo e da comunicação.
Touraine vê nesta razão instrumental a sua versão
mais modesta e suave, e advoga - na linha do consenso racional
de um Jürgen Habermas - a necessidade de uma redefinição
da modernidade por via de um consenso novo entre Razão
e Sujeito, em sociedades (como a nossa - quem diria?) onde
se perdeu a noção do espaço público
- que, ironicamente, é o berço da primeira modernidade,
a iluminista - e onde houve uma regressão para um estado
de coisas em que se acentuou o fosso entre "os poderosos e
o povo" (os "guerreiros conquistadores" - hoje combatendo
nas Bolsas de todo o mundo! - e as "pessoas vulgares") (Touraine
1993:16).
Há alguma
ingenuidade nesta utopia de recorte idealista, que lembra
em muito Habermas e o seu esforço para manter vivo,
por respiração artificial, o cadáver
- adiado talvez para um século pós-pós-moderno
- do grande projecto das Luzes (7).
Também Marshall Berman, autor de um conhecido livro
sobre "a aventura da modernidade", Tudo o Que É
Sólido se Dissolve no Ar (um título tomado
de empréstimo ao Manifesto Comunista), parece
sofrer da nostalgia de um núcleo da modernidade que
é o de um século XIX algo heróico, mas
hoje manifestamente arredado dos nossos horizontes. Essa modernidade
terá sido a de uma espécie de primeira "globalização",
conduzida pelo espírito de uma modernização
febril, de "um tipo de experiência vital e ambiental
que une a espécie humana" (Berman 1989: 15), mas é
ao mesmo tempo combatida por uma plêiade notável
de figuras a que Berman, ambiguamente, chama "os grandes modernistas
do século XIX", e na qual inclui nomes tão díspares
como Marx e Kierkegaard, Nietzsche e o anarquista Max Stirner,
Whitman e Ibsen, Baudelaire e Rimbaud, Carlyle e Melville,
Strindberg e Dostoievski. Estes e outros "modernistas" formam,
para o autor americano, a galeria olímpica daqueles
que gostam de viver em perigo e de abarcar o incomensurável.
Será neles, e no seu espírito, que Nietzsche
pensa quando fala de "nós, os modernos, nós,
os semibárbaros". O século XX, inventando uma
arte a que também chama moderna, ter-se-á, com
isso "esquecido" desta sua tradição de "vida
moderna", emancipando-se, pela arte, da modernidade do século
XIX. Outros afirmarão, pelo contrário, que o
século XX se liga, precisamente pela sua arte, ao século
anterior: penso que a tese faz sentido, para um período
muitas vezes vagamente referido como "o século XIX",
mas altamente complexo e diferenciado, e que foi, mais do
que qualquer outro, a um tempo epigonal e seminal. Berman
contrapõe, no entanto, os dois momentos históricos
como se cada um deles constituisse uma unidade coesa, para
concluir que o século XX estagna e regride, cristaliza
num "monolito fechado" (a arte autónoma, para a qual
Adorno já encontrara uma metáfora semelhante,
a da "mónada sem janelas"). No século XIX, visto
como "fase autêntica" de uma modernidade dinâmica,
totalizante e dialéctica, sabia-se que a tecnologia
e a organização social condicionam o destino
do homem, e combatia-se isso; no século XX (estranhamente
visto por Berman como uma época de elites sem poder
crítico), desde os movimentos modernos e as "vanguardas
da pura revolta" até à nova esquerda dos anos
sessenta e ao pós-modernismo, apenas se sabe!
É uma visão
duvidosa e saudosista, que pretende ressuscitar para o século
XX o que considera ser o "modernismo" dinâmico e dialéctico
do século XIX, não parecendo entender como no
século XX é precisamente a arte - e sobretudo
a arte dos movimentos ditos modernos ou de vanguarda, naturalmente
elitista, como sempre - que absorve essa dialéctica
produtiva da contradição entre o social
e o humano (ou o estético), para denunciar, embora
silenciosa e indirectamente, a dialéctica negativa
de um progresso enredado nas suas próprias contradições,
a que Adorno deu expressão filosófica. São
precisamente autores como Adorno ou, na sua esteira, Peter
Bürger e Hans Robert Jauss, o Henri Lefebvre de Introduction
à la modernité e Antoine Compagnon, ou,
entre nós, José Bragança de Miranda (com
a sua reflexão agudíssima em Analítica
da Actualidade), que farão as leituras mais amplas
e mais críticas do processo histórico e estético
da "nossa" modernidade, que não é una, mas múltipla,
que é certamente ainda a das Luzes, mas também,
no plano da arte, a de um século que, esse sim, é
verdadeiramente ainda o nosso: o século XX. "Modernos"
não podem continuar a ser, neste século que
já começa no anterior, os seguidores do modelo
realista-naturalista, mas apenas aqueles que, já desde
Baudelaire - que, nisso, é nosso contemporâneo
- proclamam e praticam uma estética antinaturalista,
a do "surnaturel", que liquida o ideal clássico, supera
o simbolismo transcendental romântico e, ao virar do
avesso a natureza, atinge também mortalmente a moral
(que, nessa altura, já é a dupla moral burguesa
que Freud e Simmel viriam a escalpelizar no fim do século).
Veja-se, por exemplo, o que Baudelaire escreve no capítulo
"O elogio da maquilhagem" de O Pintor da Vida Moderna:
"A natureza não ensina nada, ou quase nada (...), a
natureza não pode senão aconselhar o crime";"A
virtude, pelo contrário, é artificial,
sobre-natural"; "A mulher tem, de facto, o direito, e cumpre
ao mesmo tempo uma espécie de dever, ao aplicar-se
a parecer mágica e sobre-natural (...). Deve, portanto,
recorrer a todas as artes para obter os meios de se elevar
acima da natureza"; "O artifício não embeleza
a fealdade, podendo apenas servir a beleza" (Baudelaire 1993:
49-53).
São esses
modernos de pleno direito, os prematuros da modernidade no
auge do realismo e do positivismo, que levam por diante a
"rebelião do Belo contra o Bom da sociedade burguesa",
como bem viu Adorno em Minima Moralia. Não de
forma idealista, mas "alegoricamente", assimilando pela primeira
vez a indústria e o mundo urbano, para chegarem à
desconcertante afirmação de um novo "realismo",
tão sui generis como o da "nova mitologia" dos
primeiros românticos alemães. Ao afirmar "Tout
bon poète fut toujours réaliste", Baudelaire
reincide na sua ideia de uma modernité sem tempo
(porque já tocada por um sopro de eternidade), mas
com um lugar definido e inconfundível, neste caso o
da Paris da haussmanização e das grandes exposições
universais (lugar simbólico, aliás, já
que a partir daí nunca mais a arte verdadeiramente
moderna se libertará dessa presença referencial
e tutelar da técnica e do social - embora às
vezes pareça fazê-lo, e no fundo aspire sempre
a fazê-lo). É por isso que Hans Robert Jauss,
ao traçar a génese da nossa modernidade em quatro
etapas, desde os dois Discours de Rousseau (Discurso
sobre as Ciências e as Artes, de 1750, e Discurso
sobre a Origem da Desigualdade entre os Homens, de 1754)
, defende a ideia de que o modernismo (esteticista) de Baudelaire
releva de uma tendência dominante na época, que,
contra algumas interpretações já clássicas
(como a de Walter Benjamin em Charles Baudelaire, um Poeta
na Fase do Capitalismo Tardio), é uma estética
da não-autonomia da arte, que assimila - na poesia
como na fotografia - a art social, a art utile
e a art industriel (Jauss 1989: 93-94). Jauss "salva",
assim, este esteticismo inicial, no qual reconhece uma "tendência
progressista", do mesmo modo que Adorno atribui a toda a arte
moderna o duplo estatuto de autonomia e fait social.
Este duplo estatuto
perder-se-á, porém, na evolução
posterior a Baudelaire, com a insistência, em Mallarmé
e no Esteticismo - francês, inglês, português,
alemão - do Fin-de-siècle, nos princípios
da arte pela arte. É isso que explica a reacção
violenta dos modernismos propriamente ditos e das vanguardas
históricas (que, no fundo, mais não é
do que a manifestação de uma edipiana "morte
dos pais"), quer se pense na absorção frenética
do dinamismo da vida urbana no "simultaneísmo" dos
Expressionistas de Berlim em 1910 (ou da pintura dos Delaunay
e dos Futuristas italianos), no poème-conversation
de Apollinaire em 1912, nos primeiros poemas de estilo chocantemente
coloquial de T. S. Eliot em 1917, nas colagens da arte "Merz"
de Kurt Schwitters a partir de 1918, ou na rotura dadaísta,
entre 1916 e 1922, e, naturalmente, na revolução
surrealista, de 1924 ao fim da década.
É da reflexão
sobre esta fase da história do moderno, a que nos habituámos
a chamar Modernismo - e que constitui provavelmente o único
lapso de tempo (1910 a 1930) que, no contexto estético
da história desta categoria, merece o nome de época
- que nascem algumas das sínteses mais importantes
e das definições mais pregnantes do "moderno",
da "arte moderna" e, em íntima ligação
com ela, da "Modernidade": as de Henri Lefebvre e Gilbert
Durand, as de Adorno e Peter Bürger. Na impossibilidade
de comentar aqui cada uma destas leituras em particular, destaco
aquilo que me parece aproximá-las, para lá das
diferenças - nalguns casos abismais - dos pressupostos
teóricos e ideológicos que as orientam (por
exemplo, o marxismo de Lefebvre versus a mito-análise
de Durand). E o que as aproxima será o reconhecimento,
comum a todas, da indissociável relação
entre o estético e o social, que leva a que todos estes
autores, partindo da afirmação da primazia e
da autonomia (relativa) do estético, se interessem
por uma via que é a de uma "sociologia do imaginário"
moderno (a expressão é de Gilbert Durand), e
não apenas por uma fenomenologia imanentista da "obra"
moderna (Peter Bürger acentuará o facto de a própria
noção de obra ser posta em causa pelas vanguardas,
sobretudo por Dada), ou por uma mera tipologia dos Ismos (as
grandes obras modernas não cabem em nenhum Ismo). O
"moderno" refere-se, então, a um processo amplo e não
compartimentável, processo de transformação
social, de instabilização das consciências
e de renovação, nunca vista antes,
das linguagens artísticas (digamos, entre 1850
e 1930). Começando por ser uma reflexão incipiente,
espartilhada entre um Romantismo agonizante e um Realismo
nascente, entre a metafísica idealista e o positivismo
científico, entre restos de absolutismo e a afirmação,
minada de contradições, do liberalismo e do
socialismo, essa "modernidade" tacteante irá gerar
um Modernismo estético definido
por Lefebvre como "a consciência exaltante-exaltada
do Novo", introduzindo certezas programáticas onde
antes existia interrogação e reflexão
crítica (Lefebvre 1962: 10). Lefebvre definirá
a modernidade, nos alvores deste processo, através
das relações, opostas, de Marx e Baudelaire
com o mundo burguês (suprema abstracção
na teoria marxiana da alienação e matéria
concreta da nova poesia, na poética de Baudelaire),
para concluir que "a modernidade, na sociedade burguesa, será
a sombra da revolução possível e falhada,
a sua paródia" (Ibid., 174). A grande revolução
moderna não será, de facto, a revolução
política (a não ser que se pense na grande Revolução
de 1789). De uma forma ou de outra, nos séculos XIX
e XX todas as revoluções fracassaram, das movimentações
liberais à Comuna, da revolução bolchevique
ao nazismo e ao fascismo. Ela será, sim, a revolução
da linguagem poética (para ecoar um célebre
título de Julia Kristeva sobre os modernos franceses)
ou, talvez melhor, das linguagens artísticas. Na fase
heróica da Modernidade e dos Modernismos, essa revolução
ganharia foros de rebelião contra o discursivismo realista-naturalista
(mas também político-parlamentar), e afirmar-se-ia
através de duas vias que abarcam o que de mais significativo
e decisivo nos deixaram os Modernismos euro-americanos: a
do silêncio (na literatura experimental e hermética)
e a do grito (do desespero niilista à espectacularidade
futurista). Estes dois gestos, que a certa altura degeneram
em pose, convergem nesse emblemático testemunho de
uma modernidade que oscila entre o simbolismo e o expressionismo,
e que é "O Grito", de Edvard Munch (1909) - um grito
silencioso, reprimido, angustiado e universalmente humano.
Para Gilbert Durand,
silêncio e grito corresponderiam às figuras,
em que se apoia para desenvolver a sua "mito-análise"
da modernidade à luz de uma "sociologia das profundezas",
de Hermes (ou Orfeu) e Prometeu, figuras também
traduzíveis por: mito e racionalidade. Segundo esta
sua leitura de "implicação mítica", moderno
será, para Durand, o discurso predominantemente "dilemático",
e não afirmativo (Durand 1983: 8-10). Por seu lado,
Theodor Adorno (na Teoria Estética, publicada
em 1970, tradução portuguesa 1982), vê
na arte moderna múltiplos aspectos daquilo a que chama
o seu "duplo carácter": a abstracção
(a recusa do empírico) que radica no sensível,
a autonomia que é também fait social
(porque transporta consigo a recusa da alienação
do real e porque se recusa à "chantagem" da reconciliação
com a negatividade desse real, como fez a arte realista),
ou a historicidade que lhe vem da sua mais intransigente afirmação
de imanência trans-histórica, sinal da sua universalidade.
Só assim se compreende que Beckett possa ser o "grande
realista" de meados do século XX, o melhor "espelho"
de um estado de coisas, social e existencial, do mundo: esta
é uma afirmação que hoje entendemos muito
melhor, e daí talvez o regresso de Godot e de
Oh, les beaux jours aos palcos. A "anti-arte" abstracta
de Beckett e de tantos outros "modernos" e "modernistas",
precipitadamente estigmatizada como "desumana" por Ortega
em 1925, é de facto o Outro da sociedade totalitária
e alienada e de relações humanas, elas, sim,
cada vez mais abstractas (Adorno 1970: 53).
No mesmo sentido
se poderia dizer, com Peter Bürger (cf. Bürger 1974),
que modernos são aquele espírito e aquela prática
artística que levam os movimentos de vanguarda - O
Dadaísmo e o Surrealismo, aqui opostos, não
tanto aos Modernismos, mas ao Esteticismo do Fim-de-Século,
que terá esvaziado a arte de qualquer função
- a reconduzir a arte à praxis e à vida,
paradoxalmente através de processos de construção-desconstrução
radicalmente opostos a quaisquer princípios organicistas
ou vitalistas, que tinham estruturado a categoria estética
da "obra" desde o período clássico-romântico
até ao próprio Expressionismo modernista, do
qual Dada violentamente se distancia. A aventura moderna do
moderno, que começara com Baudelaire e a sua transfiguração
alegórica do mundo urbano e dos começos da dissociação
do sujeito nele, alcança aqui um clímax com
as proclamações da morte da obra e da morte
da arte, e do seu renascer nas práticas transsubjectivas,
de inspiração construtivista ou onírica,
de Dada e do Surrealismo.
Um
tempo português
Em
Portugal, esta aventura moderna do moderno teve também
os seus pensadores, cronistas e analistas, mas quase sempre
- com a excepção recente de Bragança
de Miranda - com referência apenas à nossa própria
literatura (e muitas vezes só à nossa poesia),
e de um modo disperso e ambíguo. Eduardo Lourenço
faz geralmente remontar o primeiro momento importante da nossa
"modernidade" literária às Odes Modernas
de Antero (como, aliás, já Fernando Pessoa havia
feito), enquanto que Fernando Guimarães se tem preocupado
em traçar a genealogia dos "movimentos modernos" até
às suas raízes no século XIX, para fundamentar
as suas teses, hoje já pouco contestadas, de uma continuidade
entre Simbolismo e Modernismo. Outros, como sabemos, propuseram
antes teses afins, indo mesmo mais atrás, até
ao Romantismo - o caso de Octavio Paz -, não deixando,
porém, de ser contestados por aqueles que viram nos
modernismos do século XX uma rotura, mais do que uma
sutura, em relação ao Romantismo (é o
caso, por exemplo, do brasileiro José Guilherme Merquior).
Entre nós, a discussão não tem, porém,
sido, nem intensa nem muito sistemática. É sintomático
o facto de o Dicionário de Jacinto do Prado
Coelho não incluir um artigo sobre "Modernidade", um
conceito hoje inflaccionado, vago e demasiado abrangente.
Os modernistas portugueses das duas "gerações"
sabiam melhor do que falavam quando usavam o termo "moderno"
(embora também o não tenham propriamente pensado).
Pessoa usa-o já em 1910, no artigo sobre "A nova poesia
portuguesa", com referência à poesia desde Nobre
e Antero (este é também considerado o "ponto
de partida" das transformações literárias
portuguesas modernas no artigo "On Modern Portuguese Literature"
[1912?]), embora noutros textos "moderno" seja praticamente
equivalente de simbolista ("A arte moderna é a arte
do sonho" [1913?]) ou referido como uma "transição"
entre Romantismo e Modernismo. Na fase sensacionista é
este Ismo que representa o "movimento" moderno por excelência,
já que terá superado, tanto o simbolismo/paulismo
como o nacionalismo saudosista (cf. Páginas Íntimas
e de Auto-interpretação), enquanto que noutras
ocasiões (no Livro do Desassossego e em textos
incluídos nas Páginas de Estética,
de Teoria e Crítica Literária [PE]) as menções
ao moderno se alargam à arte do seu tempo, vista como
"aristocrática" ("A arte moderna é aristocrática":PE,
158). Mais tarde, no Prefácio à Antologia
de Poemas Portugueses Modernos, organizado com António
Botto em 1929, recusa-se o uso do termo "moderno" em sentido
genérico ("O termo 'moderno' nada significa em si mesmo"),
mas volta-se a defini-lo, agora para o caso português,
com referência a Antero: "No caso presente, entendemos
por poemas portugueses modernos os dos poetas portugueses
que têm data literária desde a Escola de Coimbra,
e incluindo essa escola". Porque, acrescenta-se, "esta escola
foi o renascimento da poesia portuguesa" (Páginas
de Doutrina Estética, 135-36). Uma coisa, porém,
parece certa: para Pessoa, a arte moderna não
é o Futurismo, porque este "é uma fotografia
abstracta das coisas" e a arte é "antifotográfica
e concreta" (PE, 161). Moderno parece ser então
para Pessoa, não o abstraccionismo nem o realismo,
mas "qualquer coisa de intermédio", que não
cabe nas batalhas dos Ismos, mas é comum a muitos deles
e tem a ver com uma "atitude" em que entram, tanto o snobismo
como a originalidade, o comportamento anti-burguês e
a vontade de negação, o cosmopolitismo e a autonomia
estética. É o que parece estar contido na fórmula
lapidar do Livro do Desassossego, que já citei,
e onde se diz que "ser moderno é escapar às
regras e dizer cousas inúteis".
Para Almada Negreiros,
que tem por vezes o cuidado de distinguir entre os Modernos
(os Modernistas) e os "Novos" (grupo mais consciente da oposição
radical entre novo e velho, no qual se inclui), ser moderno
é, num registo diferente do de Pessoa, estar à
la page, ser anti-académico e anti-passadista,
mas sem vinculação a um movimento específico
(cf. "Modernismo", 1926) - é ser "futurista e tudo",
mas não necessariamente modernista: esses são
os de Orpheu, enquanto os "Novos" que se juntam num Comício
no Chiado Terrasse em 1921 são apenas "um grupo de
rapazes que quer entrar para a SNBA!" A ideia - e a distinção
novo-velho, e também novo-moderno - é retomada
em 1934 (em "'Os Pioneiros' - Para a história do movimento
moderno em Portugal") e 1936 (em "Fundadores da Idade Nova"),
sem que, no entanto, se chegue a definir, literaria e esteticamente,
os conceitos, como tinha feito, por exemplo, o manifesto de
Apollinaire "L'esprit nouveau et les poètes", de 1917.
A confusão é grande: José Augusto França
constata que só em 1914 apareceu o termo "modernismo",
usado por um crítico de jornal, mas aplicado aos simbolistas-decadentes
do Porto (os de Lisboa prefeririam chamar-se, mais ou menos
meteoricamente, Sensacionistas ou Futuristas). O termo (Modernismo)
será fixado mais tarde pela geração da
presença, mas apenas para referir o grupo de
Orpheu, e para ser, a dado passo, mais ou menos "tabuizado",
transformado em etiqueta desse passado próximo de que
Régio e Gaspar Simões se distanciam. Já
em 1928 o Notícias Ilustrado, ao historiar o
nosso Modernismo, escrevia que os verdadeiros modernistas
eram "os precursores" (do segundo Modernismo).
O arquitecto Carlos
Ramos daria ainda uma definição de Modernismo
(desta vez por oposição a Nacionalismo, que
teria a ver com o lugar onde se nasce) que me interessa por
destacar a dimensão cosmopolita e a importância
do tempo no moderno. Escreve Carlos Ramos no número
3 da revista Sudoeste, em 1935: "Modernismo é
o estado de consciência proveniente do conhecimento
exacto da hora em que uma pessoa viu a luz do dia". Curiosa
definição. Ser moderno é então
uma questão de tempo, não de lugar. Há,
realmente, uma "topofobia" nos modernos, já assinalada
(em O Sentimento Trágico da Vida) por Unamuno,
que não gostava de modernismos nem de "maluquices futuristas",
que vê os modernistas como gente que anda à deriva,
sem identidade nem lugar próprio (esquece-se de que
a identidade dos modernistas por toda a Europa era um estado
de espírito, e que o seu lugar próprio era a
arte, de Paris a Berlim e de Lisboa a S. Petersburgo). É
um facto que a perspectiva temporal sempre foi determinante
para a compreensão daquilo a que se vem chamando "moderno"
desde a Querelle...: Baudelaire define a modernidade
com recurso às noções de instante e eternidade,
os modernos do início do século e o tardo-modernismo
de meados de novecentos sempre fizeram do tempo e da temporalidade,
dos mistérios da durée e da memória,
os seus grandes temas. A obra moderna é, assim, aquela
que, no seu universalismo cosmopolita, absorve ou anula o
espaço, com vista à fixação do
sentido da sua modernidade na figura de uma eternidade desvinculada
das contingências espaciais e da "cor local". A arte
moderna apostou na "eternidade" de categorias como a forma,
a estrutura ou o "ponto" que tudo absorve e transforma em
puro subjectivismo. É mais um dos paradoxos do moderno,
esta pretensão de, rejeitando a fixação
espacial, dar expressão ao tempo através de
figuras da intemporalidade. Herberto Helder deixou a mesma
ideia, formulada de modo quase genial, numa passagem de Cobra
(p. 60): "A única meditação moderna
é sobre o nó / absorvendo a madeira toda."
Nesta expressiva imagem podem estar todos os sentidos do processo
recente da modernidade que temos vindo a seguir: a concentração
(simbolista) do mundo no pormenor ou (modernista) no Eu; a
dialéctica do moderno em Baudelaire, entre o pontual
e o ilimitado; a expressão da crise da linguagem discursiva
na viragem do século, particularmente num documento-chave
como a célebre Carta de Lord Chandos, de Hofmannsthal;
a processualidade iminentemente metonímica da poesia
de Pessoa (cf. J. Barrento, O Espinho de Sócrates,
pp. 91 segs.), ou já o pós-moderno e
a sua proclamação do fim das grandes narrativas.
Modernos e pós-modernos
O
destino do conceito de "moderno" na nossa actualidade,
que, faute de mieux, dele se serve para a si mesma
se definir, é curioso e paradoxal. A contemporaneidade
há muito que sentiu necessidade de o sacudir, incomodada
que andava, desde os anos sessenta, com o que considera ser
ainda a dureza, a inflexibilidade, um sentido absoluto e programático
dos modernos (leia-se: modernistas), incompatível com
a era da contingência e da disseminação,
da "dispersão sem princípio tutor" (Eduardo
Prado Coelho, "O homem de areia", Público ["Mil
Folhas"], 24 de Fevereiro de 2001). A incompatibilidade é
real, apesar de ser igualmente possível traçar
genealogias, sobretudo a nível de processos estéticos
(menos de estados de consciência), entre o moderno e
o pós-moderno. Mas um sistema que pretendesse abarcar
e relacionar esses dois momentos que absorvem o último
século, teria de ser um sistema de oposições.
Um quadro sintético que quisesse enumerar algumas delas,
no plano filosófico e no estético, poderia ter
a seguinte configuração, ou outra semelhante:
Modernidade/ Modernismo |
Pós-Modernidade/
Pós-Modernismo |
- Racionalidade
- Pensamento "duro"
- Pensamento da unidade
- Totalidades sistemáticas
- Pensamento dialéctico (Estrutura)
- Sentido do trágico
- Sentido ético
- Eticização da estética
- Programas (vinculativos, unilaterais)
- Um pensamento adentro de uma filosofia da história
- Crítica das ideologias
- Vivência crítica da crise
- Superstição do 'novo'
- Arte do profundo e do elementar
- Purismo estético
- Culto da originalidade
- Ironia séria
- Subjectivismo sem sujeito
- "Desumanização"? (abstracção)
|
- Crítica da razão/
irracionalismo
- Pensamento "debole"
- Pensamento da "diferença"
- Fragmentação assistemática
- Pensamento "aberto" (Desconstrução)
- Sentido do lúdico
- Vazio ético
- Estetização da ética e da política
- "Valores" (flexíveis, referenciais)
- Fim da história,"pós-história"
- Fim das ideologias
- Convivência acrítica com as crises
- Reciclagem e revivalismos
- Arte do superficial e do acidental
- Eclectismo
- Culto da intertextualidade
- Paródia e humor
- Sujeitos (sem subjectivismo)
- Re-humanização? ('reality-shows', 'realismo
urbano') |
(In)actualidade do moderno
Que aconteceu entretanto
ao "moderno" e à sua assimilação pelos
movimentos designados de Modernismos? O modernismo teve o
destino diagnosticado (por Enzensberger, Sanguinetti, Peter
Bürger) a todas as vanguardas: desgastaram-se e esgotaram-se.
O que um dia foi contra-cultura, prática simbólica
de rotura iconoclasta e radical, transformou-se num objecto
de quase suspeição por parte de uma cultura
hoje dominante, incaracterística e sem perfil claro:
o chamado pós-modernismo. O modernismo é hoje
visto (também pela crítica literária)
como cultura obsoleta, ou pelo menos como matéria já
só histórica, muitas vezes objecto de rejeição
ou ironia - quer a cultura artística dos modernismos,
quer a das grandes causas políticas ou éticas,
quer ainda a de uma cultura filosófica crítica
e informada pelo niilismo. Tudo isso se tornou património
de uns dinossáurios que fizeram as últimas aparições
por 1968, para depois (nos Estados Unidos, já mesmo
por essa altura) darem lugar a outro bicho mítico,
o pós-modernismo, a que um dia chamei o "unicórnio
do século" (todos falam dele, mas nunca ninguém
o viu de corpo inteiro - pela simples razão de que
ele nunca teve um corpo inteiro).
O modernismo foi
uma cultura da rotura em profundidade, que virou do
avesso os paradigmas racionalistas, positivistas e realistas;
o pós-moderno é uma cultura do radical em
extensão, numa convivência sem complexos.
O que antes era rigorismo radical, com limites bem definidos,
transformou-se hoje num culto do radical pelo radical. O que
antes foi rasurado - o Eu, o sujeito: mas não a subjectividade
- expõe-se hoje sem limites e sem subjectividade nos
'talkshows' e nos 'reality shows', na literatura do "realismo
urbano total": o Eu exterior, o corpo sem interioridade, só
com uma alminha feita de faits divers, emoções
mesquinhas, biografias rasas. Lúdicas e puramente anódinas.
A cultura pós-moderna, diferentemente da moderna, não
é crítica nem rigorista, é performativa
e transgénica, híbrida e permeável, quase
já só tem corpo e sexo. O resultado: um enorme
tédio, porque não se pode ir mais longe do que
o corpo, e porque a banalização do gesto pretensamente
extremo nos deixa cada vez mais indiferentes. Radicais, dir-se-á,
foram os modernos, Nietzsche e Sá-Carneiro, Bataille
e Cioran. Mas também eles sofreram o destino, hoje
claramente diante dos nossos olhos, de todos os modernos:
tornaram-se "antigos", envelheceram. Os modernos estão
hoje - no que diz respeito a uma eventual presença
actuante na cultura contemporânea - mortos e enterrados.
Mas o sentido do "moderno", esse continua aí, mais
vivo do que nunca - se por moderno entendermos, não
o que nos vem dos discursos históricos, esgotados,
sobre a modernidade, mas o presente vivo e a sua urgência,
a experiência de uma actualidade que é
fundamento de liberdade, acto e criação ou,
como escreve Bragança de Miranda a propósito
da noção de actualidade em Foucault, "o agir
livre que se efectiva no combate que se joga entre o existente
e o possível, o presente e o actual" (Bragança
de Miranda 1998: 74). Para Foucault, que privilegiava a acepção
do moderno em Baudelaire, "a modernidade é um modo
de ser da actualidade, cujo sentido está em aberto,
que se joga dia a dia, acto a acto" (Ibid., 78). É
o que quer dizer a pergunta, colocada já em 1829 pelo
dramaturgo alemão Christian Dietrich Grabbe na boca
de Fausto, na peça Dom João e Fausto
[em cena na Cornucópia]: "Valerá menos o
que acontece no mundo do que a história do
mundo?" (I, ii).
Eu diria que não.
NOTAS
(1)
Em A Arte do Romance, Milan Kundera comenta a recusa
do romancista Hermann Broch em seguir o "modernismo titulado"
(i. é académico) em nome da oposição
a uma fórmula, a do "romance tradicional", onde cabem,
sem distinção, nada mais nada menos do que quatro
séculos de romance (A Arte do Romance. Lisboa:
D. Quixote, 1988, p. 84).
(2)
O mesmo se não pode dizer de Rimbaud e da sua reivindicação,
totalmente vaga, "Il faut être absolument moderne!",
nem do seu émulo alemão, o poeta Arno Holz,
quando escreve, num poema de 1886: "...Moderno deve ser o
poeta, / Moderno dos pés à cabeça!".
(3)
Cf. J. Barrento (Org.), Literatura Alemã. Textos
e Contextos (1700-1900). Vol. II. Lisboa: Presença
1989, pp. 225-227.
(4)
Isto, para não adoptarmos um ponto de vista ainda mais
radical, como o de Carlo Michelstaedter, o mítico autor
triestino de Persuasão e Retórica (1913),
para quem só há dois tempos na História,
o grego e o pós-grego (o cristão, ou já
o da filosofia abstracta do pós-socratismo, que assinala
a morte da palavra viva e da experiência), e para quem
"o nosso tempo é medido por uma escala epocal longuíssima,
onde a noção de modernidade, por exemplo, deixa
de ter sentido" (António Guerreiro, O Acento Agudo
do Presente. Lisboa, Cotovia, 2000, p. 129).
(5)
A ideia de "pós-modernidade" remonta a Nietzsche
e à sua proposta de superação da cultura
moderna da decadência e do niilismo pela figura do "sobre-homem".
O termo aparece já, referido a essa superação,
num ensaio do autor alemão Rudolf Pannwitz ("A crise
da cultura europeia") em 1917. Num contexto histórico-literário,
"pós-modernismo" é já usado na América
Latina e nos Estados Unidos desde os anos trinta do século
XX (Borchmeyer 1994: 347 segs.)
(6)
Que os Antigos continuam a ser venerados pela Idade Média
adentro, mostra-o a influente metáfora de S. Bernardo
(de Chartres), segundo a qual os seus contemporâneos
(os modernos, que se vangloriavam de ver mais longe) seriam
apenas anões aos ombros de gigantes (os Antigos). A
metáfora, transmitida por John of Salisbury, perdurará
até ao século XVII (cf. Bragança de Miranda,
1994, pp. 176 e 200-201).
(7)
J. Habermas, O Discurso Filosófico da Modernidade.
Lisboa: D. Quixote, 1990; e Die neue Unübersichtlichkeit
[A Nova Opacidade]. Frankfurt: Suhrkamp, 1985.
Bibliografia sumária
(e citada)
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Theorie. Frankfurt, 1970 (Ed. portuguesa: Teoria Estética.
Lisboa: Edições 70, 1982)
- João Barrento,
O Espinho de Sócrates. Lisboa: Presença,
1987
- Charles Baudelaire,
O Pintor da Vida Moderna. Trad. Teresa Cruz. Lisboa:
Vega, 1993
- Marshall Berman, Tudo
o Que É Sólido se Dissolve no Ar. A aventura
da moder nidade. Lisboa: Edições 70, 1989
- Dieter Borchmeyer,
"Postmoderne", in: D. Borchmeyer/V. Zmegac (Eds.), Moderne
Literatur in Grundbegriffen
[Conceitos Fundamentais
da Literatura Moderna]. Tübingen, 1994
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Theorie der Avantgarde. Franfurt, 1974 (Trad. portug.:
Teoria da Vanguarda. Trad. de Ernesto Sampaio.
Lisboa: Vega, 1993)
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Les cinq paradoxes de la modernité. Paris: Seuil,
1990
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Lisboa: A Regra do Jogo, 1983
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"Die Aporien der Avantgarde", in: Einzelheiten II. Frankfurt,
1962 (Trad. portug. em: Tempo Brasileiro, Nr. 26-27,
Jan°-Março 1971)
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New Mutants" [1965] e "Cross the border and close the gap"
[1968], in: Collected Essays. New York: Stein &
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y Gasset, La deshumanización del arte [1925].
Madrid: Revista de Occidente, 6a. ed., 1960 (trad.
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- Gianni Vattimo, O
Fim da Modernidade. Lisboa: Presença, 1987.
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