Roteiro
para alguns festivais de ciberarte, cibercultura e novos media
Durante
os meses de Verão acontecem, como já vem sendo
hábito, uma série de festivais de ciberarte,
cibercultura e novos media à volta do mundo.
Um dos mais antigos é o SIGGRAPH
(Special Interest Group in Graphics), que começou,
há quase trinta anos (1),
com o encontro de matemáticos e cientistas interessados
na geração de imagens gráficas através
de computadores. O programa deste ano, que se realiza em Los
Angeles (o SIGGRAPH é itinerante) no L.A. Convention
Center, contempla, para além da exposição
dos mais inovadores produtos informáticos, uma conferência
anual na qual são apresentadas comunicações
que exploram questões prementes sobre infografia (computer
graphics) e técnicas interactivas, assim como demonstrações
das últimas novidades infográficas, animação
digital, jogos de computador, modelação geométrica
ou visualização. Apesar de durante muito tempo
o SIGGRAPH ter sido quase só uma feira de novos media,
como critica Hans-Peter Schwarz em Media Art History
(2),
este ano estão incluídas nas actividades da
conferência, entre muitas outras, uma galeria de arte
- N-Space
- e um festival de animação - Computer
Animation Festival 2001: A Digital Odissey. O festival,
que terá aproximadamente 40.000 visitantes, desenvolverá,
também, uma série de actividades como: cursos
práticos sobre tecnologias cutting edge; o Creative
Applications Lab no qual se podem trocar críticas
e sugestões, assim como, aperfeiçoar conhecimentos
sobre aplicações informáticas; o Educators
program, um programa especialmente dedicado para
educadores e professores que visa desenvolver o uso do computador
de forma criativa no ensino; o Emerging Technologies
dedicado às possibilidades lúdicas mais inovadoras;
para além de uma série de sessões especiais
sobre vários temas. O festival realiza-se no mês
de Agosto entre os dias 12 e 17.
No início do mês
de Setembro começa o Ars
Electronica 2001 que este ano tem como tema TAKEOVER-
Who's doing the art of tomorrow? O festival é apresentado
através de um texto, de Gerfried Stocker, director
do Ars Electronica Center, que coloca desde logo a seguinte
pergunta: "Que constelações, que factores estão
a definir a arte de amanhã, onde irá acontecer,
quem está a fazê-lo e com quem?". De facto, este
texto pelas questões que coloca deveria suscitar uma
reflexão mais alargada, que obviamente não poderá
ter lugar neste artigo, mas poderemos listar alguns pontos
de interesse- o primeiro que se destaca, é sem dúvida,
a questão do tempo devido a uma tónica posta
numa arte do futuro, mas do que Stocker fala é de um
presente, dos artistas que hoje trabalham com
os meios que estão à sua disposição
pelos avanços das novas tecnologias, e que são
anualmente apresentados, por exemplo no Siggraph. Por outro
lado refere que, os rituais tradicionais de acesso ao mundo
da arte são irrelevantes, e muitos já nem se
preocupam com a busca de acreditação pelo "art
establishment", no entanto e paradoxalmente, o festival
também funciona como um ritual de acesso, quer
como espaço de exposição e visibilidade
dos artistas quer pelos prémios que anualmente atribui,
e é o próprio Stocker que atribui ao festival
a categoria de instituição artística:
"O festival como instituição artística
funciona como um mercado de ideias, processos e formas de
trabalho". O Ars Electronica já existe desde 1979 afirmando-se
como uma importante plataforma para divulgar o desenvolvimento
da arte que utiliza os novos media, e desde 1987 são
atribuídos os prémios Ars Electronica por um
júri internacional. Curiosamente os troféus
destes prémios, os Nica, são uma reprodução
da Vitória de Samotrácia dourada... Um artigo
de Richard Barbeau, publicado na revista canadiana Archée,
questiona, de forma muito interessante, o modo e os critérios
de atribuição dos prémios. O tema deste
ano aparece-nos quase como uma redenção das
afirmações relativas ao Ars de 1998, pois nesse
ano Joichi Ito, membro de vários júris da Ars,
afirmava: "Apesar de se denominar Ars Electronica, não
é, de facto, um concurso artístico. (...) O
objectivo do Ars Electronica é procurar inovações
tecnológicas"(3).
Assim como Derrick de Kerckhove afirmava pelo conjunto dos
júris: "Estamos muito desapontados porque as obras
não estão a ficar melhores tão rapidamente
como esperávamos"(4).
Se, em 1998, o panorama das obras de arte que concorriam ao
Prix
Ars Electronica parecia ao júri tão
desinteressante e tão pouco inovador tecnologicamente,
parece no mínimo estranho em 2001 encontrar a arte
para amanhã (?).
O Trans
004 realiza-se em Chicago, entre 6 e 12 de Agosto,
e é um festival dedicado ao som e à performance,
no qual participam músicos, compositores, cineastas,
e artistas de mais de oito países, entre os quais o
português Rafael
Toral. A tónica é colocada na questão
do espaço e do tempo na cultura digital: "The flow
of our daily lives is marked by a shifting of our senses of
time and space within the ever expanding realms of a rapidly
globalizing place. (...) Transmissions festival locates itself
at the intersection of space and the Internet. In a sense,
the experience of performed or prepared sound reasserts the
materiality of everyday life; as sound plays a tremendous
role in the construction of space"(5).
Desde o seu início, há quarto anos, que o Trans
tem apresentado música improvisada, experimental, minimal
e electrónica ao vivo, mas também performance.
Este ano irá, também, apresentar transmissões
vídeo e áudio ao vivo, assim como soluções
inovadoras em DVD (digital video delivery).
Apesar de não serem
exactamente festivais, vão decorrer duas conferências,
que merecem a nossa atenção dado o âmbito
das reflexões propostas e a inclusão da apresentação
de projectos artísticos. A COSIGN
2001: Computational Semiotics in Games and New
Media, realiza-se nos dias 10 a 12 de Setembro em Amsterdão.
Esta é uma conferência transdisciplinar que explora
a forma como a semiótica pode ser aplicada na criação
e na análise dos media digitais, e aborda as
áreas de sobreposição entre a semiótica
e os media digitais interactivos, dirigindo-se todos
os interessados neste tema, incluindo artistas, designers,
críticos, cientistas, especialistas em semiótica,
HCI (human computer interface) e AI (inteligência artificial).
A segunda conferência, cast
01 Conference on Communication of Art, Science
and Technology, é presidida por Monika Fleischmann
e Wolfgang Strauss, que estiveram presentes, em Portugal,
na Conferência Internacional sobre Tecnologias e
Mediação (ICTM'97).
O tema deste ano é Living in Mixed Realities:
"O que significa viver, jogar e trabalhar num mundo modelado
e percepcionado através dos media digitais,
redes, e arquitecturas do espaço real-virtual?". A
cast 01 conjuga artistas, teóricos e cientistas no
confronto entre práticas artísticas inovadoras
com a pesquisa e o desenvolvimento das novas tecnologias da
informação, assim como, sobre quais são
essas influências na sociedade em rede, ao nível
dos padrões de vida e de trabalho. A conferência
realiza-se em Bona, nos dias 21 e 22 de Setembro.
O último festival que
gostaríamos de destacar, o FILE
(festival internacional de linguagem electrónica),
é também o único realizado num país
de expressão lusófona- o Brasil. Ainda sem dias
marcados, o FILE irá decorrer durante o mês de
Agosto na cidade de S.Paulo, e tem como objectivo "expressar
as principais manifestações estéticas
e científicas no intuito de promovê-las, incentivá-las,
e divulgá-las, bem como de desenvolver a criatividade
colectiva, promover a experimentalidade estético-científico-tecnológica
e propiciar debates, fóruns e palestras no propósito
de potencializar as artes e as ciências". Curiosamente,
e ao contrário da maioria dos festivais, os organizadores
consideram que a maior parte dos trabalhos apresentados, quer
artísticos, quer teóricos, são germes
micrológicos de novas categorias, e como tal seria
errado tratá-los tematicamente, preferindo abordá-los
como uma multiplicidade germinante. O festival articula-se
on-line e off-line, por um lado desenvolvem
o LIFE FILE, um arquivo vivo do festival enquanto este decorre,
e que é constituído pelas participações
on-line; por outro o festival decorre também
off-line, devido a trabalhos que pela sua exigência
tecnológica não são compatíveis
com a rede. Para poderem cruzar os trabalhos on e off-line
já apresentados estão a construir um arquivo
que permita futuramente e de forma crítica tecer relações
e desvios. O festival tem tido e continua a ter como critérios
selectivos temáticas abrangentes: a interactividade,
a interfacialidade, a imersão, a inteligência
artificial, a simulação e a hiperconectividade.
Trans
004, Chicago, EUA, 6 a 12 de Agosto
SIGGRAPH,
Los Angeles, EUA, 12 a 17 de Agosto
FILE,
S.Paulo, Brasil, Agosto (em data a definir)
Ars
Electronica 2001, Linz, Áustria, 1 a 6 de Setembro
COSIGN
2001, Amesterdão, Holanda, 10 a 12 de Setembro
cast
01, Bona, Alemanha, 21 e 22 de Setembro
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