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  Ciberfestivais - Verão de 2001

  [ Susana Mendes Silva ]

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Roteiro para alguns festivais de ciberarte, cibercultura e novos media

Durante os meses de Verão acontecem, como já vem sendo hábito, uma série de festivais de ciberarte, cibercultura e novos media à volta do mundo. Um dos mais antigos é o SIGGRAPH (Special Interest Group in Graphics), que começou, há quase trinta anos (1), com o encontro de matemáticos e cientistas interessados na geração de imagens gráficas através de computadores. O programa deste ano, que se realiza em Los Angeles (o SIGGRAPH é itinerante) no L.A. Convention Center, contempla, para além da exposição dos mais inovadores produtos informáticos, uma conferência anual na qual são apresentadas comunicações que exploram questões prementes sobre infografia (computer graphics) e técnicas interactivas, assim como demonstrações das últimas novidades infográficas, animação digital, jogos de computador, modelação geométrica ou visualização. Apesar de durante muito tempo o SIGGRAPH ter sido quase só uma feira de novos media, como critica Hans-Peter Schwarz em Media Art History (2), este ano estão incluídas nas actividades da conferência, entre muitas outras, uma galeria de arte - N-Space - e um festival de animação - Computer Animation Festival 2001: A Digital Odissey. O festival, que terá aproximadamente 40.000 visitantes, desenvolverá, também, uma série de actividades como: cursos práticos sobre tecnologias cutting edge; o Creative Applications Lab no qual se podem trocar críticas e sugestões, assim como, aperfeiçoar conhecimentos sobre aplicações informáticas; o Educators program, um programa especialmente dedicado para educadores e professores que visa desenvolver o uso do computador de forma criativa no ensino; o Emerging Technologies dedicado às possibilidades lúdicas mais inovadoras; para além de uma série de sessões especiais sobre vários temas. O festival realiza-se no mês de Agosto entre os dias 12 e 17.

No início do mês de Setembro começa o Ars Electronica 2001 que este ano tem como tema TAKEOVER- Who's doing the art of tomorrow? O festival é apresentado através de um texto, de Gerfried Stocker, director do Ars Electronica Center, que coloca desde logo a seguinte pergunta: "Que constelações, que factores estão a definir a arte de amanhã, onde irá acontecer, quem está a fazê-lo e com quem?". De facto, este texto pelas questões que coloca deveria suscitar uma reflexão mais alargada, que obviamente não poderá ter lugar neste artigo, mas poderemos listar alguns pontos de interesse- o primeiro que se destaca, é sem dúvida, a questão do tempo devido a uma tónica posta numa arte do futuro, mas do que Stocker fala é de um presente, dos artistas que hoje trabalham com os meios que estão à sua disposição pelos avanços das novas tecnologias, e que são anualmente apresentados, por exemplo no Siggraph. Por outro lado refere que, os rituais tradicionais de acesso ao mundo da arte são irrelevantes, e muitos já nem se preocupam com a busca de acreditação pelo "art establishment", no entanto e paradoxalmente, o festival também funciona como um ritual de acesso, quer como espaço de exposição e visibilidade dos artistas quer pelos prémios que anualmente atribui, e é o próprio Stocker que atribui ao festival a categoria de instituição artística: "O festival como instituição artística funciona como um mercado de ideias, processos e formas de trabalho". O Ars Electronica já existe desde 1979 afirmando-se como uma importante plataforma para divulgar o desenvolvimento da arte que utiliza os novos media, e desde 1987 são atribuídos os prémios Ars Electronica por um júri internacional. Curiosamente os troféus destes prémios, os Nica, são uma reprodução da Vitória de Samotrácia dourada... Um artigo de Richard Barbeau, publicado na revista canadiana Archée, questiona, de forma muito interessante, o modo e os critérios de atribuição dos prémios. O tema deste ano aparece-nos quase como uma redenção das afirmações relativas ao Ars de 1998, pois nesse ano Joichi Ito, membro de vários júris da Ars, afirmava: "Apesar de se denominar Ars Electronica, não é, de facto, um concurso artístico. (...) O objectivo do Ars Electronica é procurar inovações tecnológicas"(3). Assim como Derrick de Kerckhove afirmava pelo conjunto dos júris: "Estamos muito desapontados porque as obras não estão a ficar melhores tão rapidamente como esperávamos"(4). Se, em 1998, o panorama das obras de arte que concorriam ao Prix Ars Electronica parecia ao júri tão desinteressante e tão pouco inovador tecnologicamente, parece no mínimo estranho em 2001 encontrar a arte para amanhã (?).

O Trans 004 realiza-se em Chicago, entre 6 e 12 de Agosto, e é um festival dedicado ao som e à performance, no qual participam músicos, compositores, cineastas, e artistas de mais de oito países, entre os quais o português Rafael Toral. A tónica é colocada na questão do espaço e do tempo na cultura digital: "The flow of our daily lives is marked by a shifting of our senses of time and space within the ever expanding realms of a rapidly globalizing place. (...) Transmissions festival locates itself at the intersection of space and the Internet. In a sense, the experience of performed or prepared sound reasserts the materiality of everyday life; as sound plays a tremendous role in the construction of space"(5). Desde o seu início, há quarto anos, que o Trans tem apresentado música improvisada, experimental, minimal e electrónica ao vivo, mas também performance. Este ano irá, também, apresentar transmissões vídeo e áudio ao vivo, assim como soluções inovadoras em DVD (digital video delivery).

Apesar de não serem exactamente festivais, vão decorrer duas conferências, que merecem a nossa atenção dado o âmbito das reflexões propostas e a inclusão da apresentação de projectos artísticos. A COSIGN 2001: Computational Semiotics in Games and New Media, realiza-se nos dias 10 a 12 de Setembro em Amsterdão. Esta é uma conferência transdisciplinar que explora a forma como a semiótica pode ser aplicada na criação e na análise dos media digitais, e aborda as áreas de sobreposição entre a semiótica e os media digitais interactivos, dirigindo-se todos os interessados neste tema, incluindo artistas, designers, críticos, cientistas, especialistas em semiótica, HCI (human computer interface) e AI (inteligência artificial). A segunda conferência, cast 01 Conference on Communication of Art, Science and Technology, é presidida por Monika Fleischmann e Wolfgang Strauss, que estiveram presentes, em Portugal, na Conferência Internacional sobre Tecnologias e Mediação (ICTM'97). O tema deste ano é Living in Mixed Realities: "O que significa viver, jogar e trabalhar num mundo modelado e percepcionado através dos media digitais, redes, e arquitecturas do espaço real-virtual?". A cast 01 conjuga artistas, teóricos e cientistas no confronto entre práticas artísticas inovadoras com a pesquisa e o desenvolvimento das novas tecnologias da informação, assim como, sobre quais são essas influências na sociedade em rede, ao nível dos padrões de vida e de trabalho. A conferência realiza-se em Bona, nos dias 21 e 22 de Setembro.

O último festival que gostaríamos de destacar, o FILE (festival internacional de linguagem electrónica), é também o único realizado num país de expressão lusófona- o Brasil. Ainda sem dias marcados, o FILE irá decorrer durante o mês de Agosto na cidade de S.Paulo, e tem como objectivo "expressar as principais manifestações estéticas e científicas no intuito de promovê-las, incentivá-las, e divulgá-las, bem como de desenvolver a criatividade colectiva, promover a experimentalidade estético-científico-tecnológica e propiciar debates, fóruns e palestras no propósito de potencializar as artes e as ciências". Curiosamente, e ao contrário da maioria dos festivais, os organizadores consideram que a maior parte dos trabalhos apresentados, quer artísticos, quer teóricos, são germes micrológicos de novas categorias, e como tal seria errado tratá-los tematicamente, preferindo abordá-los como uma multiplicidade germinante. O festival articula-se on-line e off-line, por um lado desenvolvem o LIFE FILE, um arquivo vivo do festival enquanto este decorre, e que é constituído pelas participações on-line; por outro o festival decorre também off-line, devido a trabalhos que pela sua exigência tecnológica não são compatíveis com a rede. Para poderem cruzar os trabalhos on e off-line já apresentados estão a construir um arquivo que permita futuramente e de forma crítica tecer relações e desvios. O festival tem tido e continua a ter como critérios selectivos temáticas abrangentes: a interactividade, a interfacialidade, a imersão, a inteligência artificial, a simulação e a hiperconectividade.

Trans 004, Chicago, EUA, 6 a 12 de Agosto

SIGGRAPH, Los Angeles, EUA, 12 a 17 de Agosto

FILE, S.Paulo, Brasil, Agosto (em data a definir)

Ars Electronica 2001, Linz, Áustria, 1 a 6 de Setembro

COSIGN 2001, Amesterdão, Holanda, 10 a 12 de Setembro

cast 01, Bona, Alemanha, 21 e 22 de Setembro