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  O que aconteceu ao CYBER2000 ?

  [ Jacinto Godinho ]

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> Fantasma do Cyber2000

> In Memoria

"Piano – as a image media" de Toshio Iwai, é talvez a mais famosa obra de uns dos mais conhecidos criadores japoneses de arte digital. Um ensaio sobre a experiência da experiência moderna – a fusão permitida por essa via de tradução de linguagens em linguagens ou de linguagens em materiais, que é o digital. A musica surge sem mestres, melodiosa, tocada nos dedos do mais duro de ouvido e cinematizada instantaneamente num surpreendente bailado de imagens

Por esta altura uma qualquer fascinante e inquientante obra de Toshio Iwai deveria estar em exposição no Ciberfestival2000, tal como esteve Composition of a Table na edição de 98. O único festival português dedicado às artes na "era digital" deveria centrar-se na obra dos jovens criadores japoneses - a chamada geração Otaku – centralizando-se e derivando da obra de Toshio Iwai autor de Music plays images/ Images plays music em colaboração com Riuchi Sakamoto.

Arte Digital, instalações interactivas, filmes de animação – Manga; o Japão Digital seria a base do CiberFestival2000.

O comissário do festival, Rui Trindade, justifica: - " Os japoneses têm uma relação fácil com a tecnologia. Isto e o conflito ou crise permanente que os jovens têm com a sociedade japonesa vai resultando numa "canibalização" dos valores culturais ocidentais misturados com os seus valores culturais. É uma mistura de coisas que parecem impensáveis - design, moda, fetiches, lendas e tudo de uma forma fluida. Sem separação entre a arte séria e o entretenimento. No Ocidente a fronteira tende a ser clara e pesada entre entretenimento e arte. No Oriente a mistura não é problema."

Rui Trindade deslocou-se ao Japão contactou artistas, preparava-se para fazer a selecção das obras em exposição. Preparados estavam, também os participantes no colóquio "A desordem da atenção" – " A atenção tem cada vez mais valor económico. Nesta "overdose" de estímulos existe disputa pela atenção das pessoas. A atenção é um bem claro e escasso" explica Rui Trindade. O Ciberfestival teria lugar entre 14 Outubro e 20 de Novembro como habitualmente no Centro Cultural de Belém e seria financiado, como habitualmente, pela Portugal Telecom. que desde a primeira edição em 1996, patrocina o festival. " Uma iniciativa como o Cyber, em que nos encontramos associados a uma instituição como o Centro Cultural de Belém, tem vindo a afirmar-se como um "evento que promove a compreensão das mutações culturais e artísticas em curso face à evolução tecnológica de que empresas como a PT são actores e promotores. Oferece-se assim uma perspectiva sobre a evolução da arte e da sua relação com as tecnologias que serão, afinal, a base da nossa actividade". Este excerto foi retirado do catálogo de 1999 e faz parte da declaração de apoio ao festival proferida por Murteira Nabo, presidente do conselho de administração da Portugal Telecom. Nele se justificava o apoio que a empresa tem dado ao evento.

>No entanto este ano, apenas algumas semanas antes do festival ser inaugurado a empresa retirou o seu apoio - entre 50 a 60 mil contos - e o Cyber2000, não se realizou. . "A Portugal Telecom achou que não havia condições para continuar a co-produzir o evento, não proporcionou os meios para que ele se continuasse a realizar, foi tão simples como isso." Assim explicou Rui Trindade a tão rápida desmaterialização do festival.

Segundo fonte oficial da Portugal Telecom, contactada pela Interact, o Cyber ficou este ano pelo caminho porque a empresa decidiu redefinir a sua estratégia de apoios tendo em vista o Porto 2001, para o qual vai contribuir em diversas iniciativas, com cerca de 400 mil contos. Para além do patrocínio à Orquestra Filarmónica do Porto, a empresa irá apoiar várias " situações interactivas", ainda não pormenorizadas, a realizar no âmbito do programa da Capital Europeia da Cultura. " Possivelmente uma obra ou instalação que estaria no Cyber pode aparecer no Porto, num qualquer evento" explica a fonte contactada, que nos adiantou ainda que uma futura realização do Cyber, depois do Porto 2001, ainda que reformulado ou com outro nome, continua em aberto para o orçamento de 2002.

Esta não é uma história invulgar, nos meandros culturais do país, mas confessamos que foi uma notícia dolorosa para a Interact. No preciso momento em que estava a nascer, morreu um dos raros, senão o único acontecimento relevante no domínio da cibercultura em Portugal. Acontecendo o Cyber ficava mais fácil espacializar e densificar o diálogo com as mais recentes explorações no domínio das artes e tecnologias digitais."

" Acabou. Estou exausto" - desabafa Rui Trindade. Por exaustão não procurou também o ICAM ( Instituto para o Cinema, Audiovisual e Multimédia ). Para o agora ex - comissário do Ciberfestival, " Não havia tradição neste tipo de iniciativas. É difícil fazer compreender às entidades os custos destas máquinas, os seguros, os valores da montagem, a elevadíssima mão-de-obra para instalação e manutenção das obras. Toda uma logística muito pesada em relação às exposições tradições onde se pendura o quadro e pouco mais. Começámos de raiz e fomos aprendendo pelo caminho. Convencer empresas, assegurar as condições mínimas de instalação, sensibilizar os pessoas e os media para irem ver a exposição. Os próprios meios de comunicação tiveram dificuldade em perceber em que contexto é que o festival se inseria, derivando para lúdicas máquinas da feira digital. A existência do Cyber era uma aprendizagem colectiva, a formação de um publico e de um discurso. Do primeiro festival em 1966 até ao ultimo em 1999 foi interessante observar como se ia formando um publico com crescente percepção e entendimento do que ali se passava, cada vez mais consciente do potencial de reflexão que ali acontecia.

O que custa mais é sentir que todo este esforço foi feito para nada. Com um pouco mais de investimento e tempo podíamos ter alcançado uma situação de estabilidade definitiva com o festival dotado, cá, de uma máquina oleada e gozando lá fora de prestigio internacional. Podia estar em breve entre os quatro festivais europeus mais importantes. O Cyber morreu na praia. "