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O nome esconde
a ironia ao mesmo tempo que a mostra. Que motivo há para ir a S. Francisco -- no caso,
assistir a uma exposição -- se a rede o permite? Ou, invertendo a perspectiva, sendo
esta uma instalação orientada para a própria rede (chamar-lhe-íamos site site
specific, se a intenção fosse taxinómica), que motivo há para intitular uma mostra
como «go to frisco »? A
declaração de intenções é aparentemente clara: trata-se da «intervenção da zé dos bois no encontro sister
spaces, no southern exposure em S.
Francisco». Nada de novo, mesmo quando somos informados de que o encontro consistiu numa
exposição, numa série de debates/conferências e na edição de um catálogo trilingue
reunindo misteriosamente os idiomas inglês, chinês e português. A exposição e os
debates justificariam a ida a S. Francisco; o catálogo, como é de rigor neste tipo de
eventos, marca a presença arquivística da exposição num circuito mais alargado. O
resto é ditado pelas escolhas de cada uma das organizações participantes, que por sua
vez delegam o seu papel nos artistas chamados à presença -- no caso, distribuídos por
três categorias: a arte vídeo, a música e a net. go to frisco justifica-se enquanto
intervenção precisamente na medida em que escapa ao que é ainda comummente entendido
como exposição, centrando-se no espaço etéreo da rede. De pouco adianta alegar que a
proposta não é totalmente original, e que já outros fizeram algo equivalente com
diferentes graus de sucesso, uma vez que o problema aqui reside na própria temática da
viagem, que apenas por um acaso teve s. Francisco como destino. Mais do que pedir-se a um
conjunto de artistas que façam peças específicas para o suporte online, enquadra-se
esse pedido sob o título genérico de uma ida a S. Francisco. Não se tratando de uma
imposição, é em certa medida indiferente que as peças lhe tenham ou não desejado
responder, pois a proposta é em si mesma armadilhada: a viagem será feita, queira-se ou
não. Sem check-in nem passaporte, tendo como bagagem um computador, um modem e
obrigatoriamente os plug-ins para o media player e para o flash . E muita paciência por parte do visitante, pois «viagem» e
«instantaneidade» são ainda um casamento interdito. Se o valor artístico de toda e
qualquer peça é sempre condicionado pela experiência do observador, o que daqui resulta
é uma invariante apesar da multiplicidade de propostas, invariante essa que resulta da
desatenção àquilo que o meio poderá ter de específico, ou, numa perspectiva mais
transigente, na expectativa de que o acesso seja feito através de um modem de cabo e a
visualização num monitor de 21 polegadas. Reduzindo a hipertextualidade a um mínimo
estritamente funcional, apostando na passividade do espectador, descurando as condições
frias do meio, cada peça acaba por equivaler-se à seguinte, de onde resulta a irónica
unidade de toda a mostra, adequando assim o nome à coisa, bem como àquilo que evoca: a
viagem, versão romântica a la século XIX.
Seguem-se os exemplos...
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