trans.gif (43 bytes) trans.gif (43 bytes)

  CD-ROM Cultura Digital

  [ Jorge Pires ]

trans.gif (43 bytes)
trans.gif (43 bytes)
cdrom1.gif (12406 bytes)
trans.gif (43 bytes)
cdrom2.gif (9402 bytes)
trans.gif (43 bytes)

Nos últimos anos, e à medida que a comunicação foi aprendendo a funcionar à velocidade da luz, os nossos modos de dirigir a atenção sobre o mundo que nos rodeia sofreram transformações consideráveis.

Tornou-se substancialmente mais fácil estar em permanente contacto com fenómenos e acontecimentos que por natureza nos seriam alheios, o que contribuiu para uma decisiva alteração das consciências e para a socialização de usos e costumes outrora tido como «estranhos».

Mas, por singular que pareça, tornou-se também progressivamente mais difícil fixar ângulos de análise, pontos de reflexão, posições com solidez suficiente para que delas se pudesse observar o mundo de forma tranquila.

Na verdade, a frenética velocidade a que hoje em dia nos é dado constatar as permanentes transformações do real conduziu à fluidificação deste: nos nossos dias, a realidade faz-se e desfaz-se a cada passo, mesmo diante dos nossos olhos, e independentemente de aceitarmos o facto de forma entusiasmada e eufórica, ou com o distanciamento irónico e o apropriado cinismo que são também uma outra marca do nosso tempo.

Num como noutro caso, a facilidade de cada opção não esconde as dificuldades que se apresentam a quem hoje em dia procure reflectir sobre a comunicação e os horizontes por ela prometidos - um tema que se tornou cada vez mais visível mas, por paradoxo, cada vez mais discreto e imponderável.

Serão pois bem recebidos todos os instrumentos que nos possam auxiliar nessa árdua tarefa - e é por isso que se saúda a publicação deste disco sobre Cultura Digital produzido pelo Centro de Estudos de Comunicação e Linguagens, contendo um conjunto de entrevistas gravadas em 1997 e subordinadas a três eixos temáticos que prolongam outras tantas inquietações sobre o futuro da humanidade no próximo século.

São elas:

1.Se a progressiva mediatização da comunicação humana conduz ao que se poderia chamar um «empobrecimento da experiência»;

2. Se, numa época em que toda a comunicação é mediatizada, continuará a fazer sentido falar de «mediação»;

Se, face à progressiva osmose entre o mecânico, o electrónico e o biológico, noções como as de «corpo» e de «humano continuarão ainda a fazer sentido.

Dez académicos de renome, oriundos de tradições e meios diversos, na Europa como nos Estados Unidos, oferecem-nos aqui as suas respostas, necessariamente parcelares, díspares até, mas oferecendo-se sempre como fecundos eixos de reflexão, e desafios a posteriores e mais aprofundadas elaborações.

Para citar apenas um exemplo, regressemos ao tema do «empobrecimento da experiência». Se Henry-Pierre Jeudy se declara firmemente avesso a tal interpretação, defendendo que nunca, como até agora, o conceito de experiência se transformara alguma vez em algo de tão singularmente colectivo e partilhado, já José Jiménez a defende, sublinhando o papel redutor que os media têm vindo a desempenhar ao promoverem sistematicamente uma simplificação do real, que se revela grosseira e promove uma cada vez menor complexidade no processo de construção do sentido da vida e da comunicação.

Existe porventura uma forma de combater essa simplificação sistemática - trata-se de promover uma diferente engenharia do conhecimento que divulgue e coloque em circulação as ideias e os instrumentos conceptuais necessários à metamorfose.

Penso ser nesse movimento que este trabalho se vem inscrever, de forma generosa e inovadora. É um documento de cariz académico, mas pode tornar-se também um utensílio, uma vez que oferece aos seus visitantes um conjunto de ferramentas conceptuais que são, hoje em dia, basilares.

Na época da comunicação à velocidade da luz, como diz Edmund Couchot, «Cada conexão, cada ligação, cada interface, muda-nos, desloca-nos, priva-nos de sentidos, acrescenta-nos outros sentidos. Em suma modifica-nos».

E é isso que o conhecimento faz - transforma as pessoas.