Ollerias 10: Um Passeio

Ollerias 10: Um passeio é uma peça sonora que nasce, em primeira instância, como subproduto do processo de criação da peça de dança Si todo empieza de nuevo que empieze desde otro lugar [Se tudo começa de novo, que comece a partir de outro lugar], uma coprodução do coletivo Qualquer (ESP/BR) com a Cia. La Lágrima (MX), desenvolvida em 2016.

Ollerias 10: Um passeio pertence a uma fase do processo de criação de Si todo empieza de nuevo que empieze desde otro lugar em que se decidiu trabalhar a partir do procedimento «Cópia» e criar, através desse procedimento, quatro protocolos de apresentação possíveis, um por cada coreógrafo integrante do projeto.

A peça sonora Ollerias 10 é a concretização de um desses protocolos de apresentação, proposta pelo coreógrafo Ibon Salvador e construída a partir de um gesto fundamental: o de copiar rigorosamente, num caderno, todas as palavras e números inscritos no espaço público ao longo de um passeio, que começou no número 10 da Rua Ollerias Bajas e acabou 300 metros adiante, na Plazuela de la Encarnación, em Bilbau. Tal exercício deu origem a uma narrativa composta pelo conteúdo de anúncios, placas governamentais, palavras arranhadas na parede, letras soltas, adesivos reivindicativos, grafitti, opiniões ou mensagens escritas a caneta, números de edifícios e do mobiliário urbano, etc. que, minuciosamente recolhidos e anotados neste passeio visaram constituir uma espécie de Arqueologia do Presente.

O dispositivo escolhido para a apresentação desse material escrito é elaborado através da gravação da sua leitura — que constitui a peça sonora –, do gesto de ler e, portanto, de dar voz a todas essas inscrições. A escuta dessa gravação ou do áudio em off realiza-se no escuro, dando lugar a uma narrativa que foi construída de acordo com o passeio. O que se escuta, portanto, é a reconstrução de um passeio específico do olhar, por diferentes superfícies escritas da rua. E esse rigor produz a sua poética particular baseada nas relações que se geram ao alinhar, numa leitura, as palavras que, na rua, permanecem dispersas.